sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Cartas de Lisboa | Vayeira







     O nascimento milagroso de Isaque é descrito na Parashá desta semana. Sara que está muito além dos seus anos de vida fértil, dá à luz uma criança saudável, que continuará o legado de seus pais.







Em comemoração deste importante evento, lemos na Torá, que Abraão 
"fez uma grande festa" (Bereshit 21: 8)


     Os comentaristas têm diferentes opiniões sobre quando exactamente ocorreu esta festa. Alguns entendem esta festa como fazendo parte da celebração da Mitzvá de Brit Mila (circuncisão) e vêem isto como precursor da maneira como tal evento é celebrado tradicionalmente.


     No entanto, a leitura do verso, parece indicar algo inteiramente diferente. O versículo descreve muito claramente, como esta festa aconteceu "no dia em que Isaque foi desmamado".





Por que é que Abraão escolheu este momento em particular para 
comemorar publicamente?


      Explica Dom Abarbanel, que esta celebração estava directamente ligada a outro milagre especial, um milagre que D-us não tinha sequer mencionado a Abraão.


     O fato de que Sara em sua idade avançada tinha dado à luz, era sem dúvida milagroso, mas havia um outro milagre especial. Não só Sara deu à luz Isaque, como foi capaz de o amamentar e dele cuidar, com a saúde e a força necessária para cuidar de um bebé tão jovem.


       O nascimento de Isaque fora realmente milagroso e muito público. No entanto, houve um outro milagre pelo qual Abraão e Sara ficaram muito gratos: o de terem a força e a capacidade de criar este seu filho.



Receber este presente inesperado e especial foi a razão para esta celebração, e constitui uma lição importante para todos nós.

Que todos nós aprendamos com Abraão e Sara a reconhecer e a ser gratos por tudo o que D-us nos dá.



Shabbat Shalom!
Cortesia do Rabino
Eli Rosenfeld
chabadportugal.com



1ª Pintura - http://themaskery.com/art/paintings/
2ª Pintura - When Abraham was 100 years old, Sarah gave birth to a son. (1984 illustration by Jim Padgett, courtesy of Distant Shores Media/Sweet Publishing)
3ª Pintura - Ahuva Klein - The Great Feast

domingo, 13 de novembro de 2016

Leonard Cohen (1934-2016)





A despedida de um grande artista


Leonard Cohen no Festival Internacional de Benicàsim (Valência, Espanha), 20 de Julho de 2008. Fotografia de Diego Tuson/AFP.


        Humilde, de uma generosidade de espírito imensa, Leonard Cohen deixou-nos. E a sua partida deixou-nos uma grande saudade. Felizmente, uma saudade que podemos enganar ouvindo a sua música, a sua poesia. Melhor, graças à tecnologia podemos ouvir a sua voz quente, muito grave, quase mística.


     Muito foi dito sobre este grande artista. Portanto, não vou alongar-me. Quero apenas prestar-lhe a minha homenagem, o meu profundo agradecimento por ter sido uma inspiração na minha vida.


     Num artigo publicado neste blogue, no ano de 2013, por altura das Grandes Festas (Yamim Noraim), apresentei a versão de Leonard Cohen do poema litúrgico Unetaneh Tokef – Who by Fire. Em Who by Fire, composto em 1973 em resposta à Guerra do Yom Kippur, Cohen debate-se com a nossa mortalidade e com o conceito de Deus, a quem dirige, num misto de devoção e de fúria, estas palavras: «And who, shall I say is calling?».


     No tema The Captain, de 1984, Cohen atreve-se a tocar num assunto tabu, quando diz: «Complain, complain, that’s all you’ve done ever since we lost. If it’s not the Crucifixion, then it’s the Holocaust. »






“The Captain”

Now the Captain called me to his bed
He fumbled for my hand
"Take these silver bars," he said
"I'm giving you command."
"Command of what, there's no one here
There's only you and me --
All the rest are dead or in retreat
Or with the enemy."
"Complain, complain, that's all you've done
Ever since we lost
If it's not the Crucifixion
Then it's the Holocaust."
"May Christ have mercy on your soul
For making such a joke
Amid these hearts that burn like coal
And the flesh that rose like smoke."
"I know that you have suffered, lad,
But suffer this awhile:
Whatever makes a soldier sad
Will make a killer smile."
"I'm leaving, Captain, I must go
There's blood upon your hand
But tell me, Captain, if you know
Of a decent place to stand."
"There is no decent place to stand
In a massacre;
But if a woman take your hand
Go and stand with her."
"I left a wife in Tennessee
And a baby in Saigon --
I risked my life, but not to hear
Some country-western song."
"Ah but if you cannot raise your love
To a very high degree,
Then you're just the man I've been thinking of --
So come and stand with me."
"Your standing days are done," I cried,
"You'll rally me no more.
I don't even know what side
We fought on, or what for."
"I'm on the side that's always lost
Against the side of Heaven
I'm on the side of Snake-eyes tossed
Against the side of Seven.
And I've read the Bill of Human Rights
And some of it was true
But there wasn't any burden left
So I'm laying it on you."
Now the Captain he was dying
But the Captain wasn't hurt
The silver bars were in my hand
I pinned them to my shirt.


     Em Outubro de 2016, Leonard Cohen editou o seu último álbum. Intitulado You Want It Darker, afinal uma despedida, é uma longa reflexão sobre a sua própria mortalidade. O álbum, visto como um retorno de Cohen às suas raízes judaicas, apresenta o Cantor Gideon Zelermyer e o Coro da Sinagoga Shaar Hashomayim, da sua cidade natal, Montreal.

     O tema You Want It Darker, que dá o nome ao álbum, inclui passagens da liturgia hebraica, como por exemplo versos do Kaddish - «Magnified and sanctified be Thy holy name»; Cohen, cita também, em hebraico e em inglês, passagens do Livro de Génesis, da história do Sacrifício de Isaac (Gen. 22:1 - E foi depois destas palavras que Deus experimentou a Abraão. E disse-lhe: «Abraão!» E disse: Eis-me aqui.) – «Hineni, 

hineni, I’m ready my Lord» - «Eis-me aqui, estou pronto meu Senhor».








“You Want It Darker”

If you are the dealer, I’m out of the game
If you are the healer, it means I’m broken and lame
If thine is the glory then mine must be the shame
You want it darker
We kill the flame
Magnified, sanctified, be thy holy name
Vilified, crucified, in the human frame
A million candles burning for the help that never came
You want it darker
Hineni, hineni
I’m ready, my lord
There’s a lover in the story
But the story’s still the same
There’s a lullaby for suffering
And a paradox to blame
But it’s written in the scriptures
And it’s not some idle claim
You want it darker
We kill the flame
They’re lining up the prisoners
And the guards are taking aim
I struggled with some demons
They were middle class and tame
I didn’t know I had permission to murder and to maim
You want it darker
Hineni, hineni
I’m ready, my lord
Magnified, sanctified, be thy holy name
Vilified, crucified, in the human frame
A million candles burning for the love that never came
You want it darker
We kill the flame
If you are the dealer, let me out of the game
If you are the healer, I’m broken and lame
If thine is the glory, mine must be the shame
You want it darker
Hineni, hineni
Hineni, hineni
I’m ready, my lord
Hineni
Hineni, hineni
Hineni


Shalom, Leonard!


Artigo de Sónia Craveiro

Numa homenagem muito merecida


Obrigada


Fontes:

https://www.youtube.com/watch?v=okaqXB6Ns5s

http://www.oldielyrics.com/lyrics/leonard_cohen/the_captain.html
http://observador.pt/2016/11/11/10-poemas-10-cancoes-palavra-de-cohen/
http://jewishstandard.timesofisrael.com/leonard-cohen-says-hineni
http://www.timesofisrael.com/leonard-cohen-donald-trump-and-their-songs-of-love-and-hate/?utm_source=The+Times+of+Israel+Daily+Edition&utm_campaign=c73ca6b3da-EMAIL_CAMPAIGN_2016_11_11&utm_medium=email&utm_term=0_adb46cec92-c73ca6b3da-55377193

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Lech Lecha




Areia, Estrelas e Poeira



Na Parashá desta semana lemos sobre o futuro do Povo Judeu, 
os descendentes de Abraão e Sara.



     
    
    D-us diz a Abraão que os seus filhos serão como a "poeira da terra". (Bereshit 13:16). Tal como é impossível contar as partículas de poeira que existem na terra, também não se pode contar o Povo Judeu.






     O líder português, Rabino Menashe ben Israel, resume as três diferentes terminologias com que D-us descreve a singularidade do Povo Judeu.





As três descrições são "poeira", "areia do mar", e "estrelas do céu". Esses diferentes termos, diz o Rabino Menashe, descrevem diferentes elementos e períodos da história judaica.






     A analogia da "areia do mar", alude à simples impraticabilidade de medir a quantidade do Povo Judeu. Este termo diz-nos pouco sobre sua natureza ou comportamento, mas apenas sobre a sua existência.






     O termo "estrelas do céu" tem um significado completamente diferente. A descrição de luz e brilho, iluminando o ambiente, refere-se a momentos de grandeza espiritual. Os tempos em que o Povo Judeu alcança seu potencial máximo.






Ainda assim é a descrição "poeira da terra", que tem a mensagem mais profunda.





     Por um lado, isso parece ser o oposto completo da analogia das estrelas. Em vez de incandescer e guiar de cima, a poeira é pisada e desprezada. No entanto, mesmo nessas situações, a poeira nunca se instala completamente, ela sempre é soprada e levantada novamente pelo vento.



Mesmo em momentos e tempos difíceis, o espírito e a fé judaica sempre se elevam acima de todas as circunstâncias.

Shabat Shalom!



Cortesia do Rabino
Eli Rosenfeld
 
chabadportugal.com
Muito obrigada

Com tudo a que tem direito...


Shabat Shalom!


Batsheva Bouskila Painting

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A Casa da Memória Judaica em Castelo Branco





     A Casa da Memória Judaica em Castelo Branco vai ser inaugurada dia 11 de Novembro de 2016 pelo ministro da Cultura. O novo espaço permite uma forte interacção com os visitantes. 





    "A Casa da Memória da Presença Judaica em Castelo Branco pretende contar a história de uma comunidade que em muito contribuiu para o desenvolvimento da cidade no período quinhentista”.



A casa fica entre a Sé e o Jardim do Paço



http://www.reconquista.pt/articles/castelo-branco-memoria-judaica-ganha-casa-na-cidade


Uma Canção Sefardita




LA ROSA ENFLORECE

OU LOS BILBILICOS CANTAN


Dançando, Miscelânea Rothschild, Itália, séc. XIV



   Este pequeno artigo mais não é do que um modesto apontamento sobre uma das cantigas mais bonitas do riquíssimo Cancioneiro Sefardita - La Rosa Enflorece (A Rosa Floresce), também conhecida como Los Bilbilicos Cantan (Os Rouxinóis Cantam).






   Esta cantiga de origem medieval, em estilo andaluz e composta a partir de um tetracorde denominado Al-Hijaz (nome de uma região da Península Arábica), canta a rosa, uma flor que simboliza a paixão, a nostalgia de um amor longínquo, e diz assim:



La rosa enfloresce en el mez de Mayo/mi alma s’escurece, sufriendo de amor.

Los bilbilicos cantan, sospiran de amor.

Y la pasion me mata, muchigua mi dolor.

Mas presto ven palomba, mas presto ven a mi/mas presto tu mi alma, que yo me vo morir.

La rosa enfloresce en el mez de Mayo/mi alma s’escurece, sufriendo de amor.



Vamos ouvi-la numa interpretação lindíssima, pela cantora Samantha Balzani.



Sephardic Romance - La Rosa Enflorece






O SÍMBOLO DA ROSA NA IDADE MÉDIA



Cântico dos Cânticos, um menestrel toca para
Salomão, Rothschild Mahzor, séc. XV



   Na riquíssima simbologia medieval, a Rosa tem um papel de primeiro plano. Os seus significados podem ser esotéricos ou populares, religiosos ou literários e interpretados consoante a forma, a cor, o perfume, o número de pétalas ou a presença de espinhos. Na tradição hebraica, a Rosa exprime a espiritualidade de Israel, lugar da presença Divina no mundo, como a Rosa de Sharon no “Cântico dos Cânticos”:


2 1Eu sou a rosa de Sharon, o lírio dos vales!2 (D’us) Como o lírio entre os espinhos, assim é a Minha amiga entre as filhas! (Israel)



Rosácea da Catedral de Chartres, séc. XIII


   A Cristandade vê na forma circular da Rosa e na disposição das suas pétalas, a representação de uma ideia de perfeição e de infinito. Numa das Cantigas de Santa Maria, de Afonso X, o Sábio (séc. XIII), a Virgem Maria é invocada como “Rosa das Rosas”.



Rosas das rosas e Fror das frores,
Dona das donas, Sennor das sennores.




Rosas das rosas e Fror das frores,
Dona das donas, Sennor das sennores.



   A iconografia mostra-nos uma flor amada, representada na pureza celestial e humana perfeição da Virgem Maria, no amor cortês, ou como recurso da higiene e da medicina (com as suas pétalas purificava-se o ar e desinfectava-se o vestuário).




O Amor, Códice Manesse,
meados de séc. XIV



Bel accueil, Le Roman de la
Rose, Bruges, c. 1490



A Rosa, Tacuinum Sanitatis,
Viena, séc. XIV



Maomé visita o Paraíso, Miraj Nama,
Pérsia, séc. XV


   O Islão também contribuiu para a elevação mística da Rosa; para os muçulmanos o Jardim das Rosas simbolizava o jardim da contemplação…”Rosa prenhe do seu perfume, o segredo de tudo”. Por volta do ano mil, um poeta persa recitava: “Se tiveres duas moedas, com uma compra pão, com a outra compra uma rosa para o teu espírito”.



Abençoando as velas de Shabat,
Minhagim, Amsterdam, 1707



   Mais recentemente, La Flor Enflorece emprestou a sua melodia a uma oração – Tzur Mishelo. Tzur Mishelo é uma oração habitualmente cantada em Shabat, como introdução à oração de graças recitada após as refeições (Birkat HaMazzon), na maioria das comunidades judaicas. Pensa-se que esta oração (Piyut) foi escrita no Norte de França, na segunda metade do século XIV. É com ela que terminamos este artigo, que esperamos seja do vosso agrado.



Tzur mishelo akhalnu/barechu emunai

Savanu vehotarenu/kidvar Adonai

(…)

O Senhor, nossa rocha/cuja comida comemos

Vamos oferecer-Lhe a nossa bênção

(…)



SHABBAT SONG - TZUR MISHELO ACHALNU,

RABBI HAGAY BATZRI






Este artigo encantador foi uma oferta 
da nossa querida amiga,
 Sónia Craveiro 

Muito obrigada 


Fontes:

http://www.larici.it/architettura-ambiente/storia/rosa/rosa01.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/Birkat_Hamazon
http://www.bj.org/spiritual-life/music-of-bj/invitation-to-piyut-na/tzur-mishelo/
Sephardic Romance - La Rosa Enflorece
SHABBAT SONG - TZUR MISHELO ACHALNU, RABBI HAGAY BATZRI
https://www.youtube.com/watch?v=KQCQfbjc7xE
http://www.youtube.com/watch?v=W9cn1pytmYI
http://www.zombietime.com/mohammed_image_archive/islamic_mo_full/
http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/loc/Glimpse.html