sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Cartas de Lisboa | "Lembre-se ..."




Tetzave - Zachor


"Lembre-se ... de Amaleque” (Devarim 25:17)



Este Shabat vamos ler dois rolos da Torá. Além da leitura da parsha regular, uma segunda leitura seguir-se-á, onde nos é implorado lembrar a história dos amalequitas.


O que é que sobre os amalequitas a Torá quer que nós nos lembremos constantemente?

Muitas nações enfrentaram o povo judeu no campo de batalha, por que é que a de Amaleque é apontada como a pior de todas elas?



O ataque de Amaleque à nação judaica é resumido neste versículo:


"Eles surpreenderam-vos na estrada e cortaram nas vossas traseiras todas as pessoas fracas, quando vocês estavam sequiosos e cansados, e eles não temeram a D-us." (Devarim 25:17)



Dom Abarbanel no seu comentário aponta quatro aspectos que ilustram a essência da luta de Amaleque contra o povo judeu.


1) As guerras não ocorrem num vácuo, diz ele, as batalhas são geralmente disputadas sobre questões territoriais. Neste caso, no entanto, o povo judeu não tinha terra, e foram atacados "na estrada" e muitos anos antes que de terem entrado em Israel.

2) Além disso, as batalhas são travadas após uma declaração de guerra, os amalequitas não fizeram tal coisa, mas atacaram de "surpresa".

3) Ao se aproximar do acampamento judaico, Amaleque não atacou as pessoas que tinham capacidade de serem soldados ou guerreiros, mas sim "as pessoas fracas."

4) Com medo de uma batalha direta, ele caçava os fracos, sem questões morais e sem "medo de D-us."


A guerra de Amaleque, diz Dom Abarbanel, "foi motivada pelo ódio, na esperança de retornar o povo judeu à escravidão e assim profanar D-us e Sua honra."





Curiosamente, a Torá não só nos diz para "destruir" os amalequitas, mas sim para os "recordar". Na verdade, estes são listados como dois Mitzvot separados. Não seria a destruição de Amaleque suficiente? Por que é que a Torá nos pede também para nos lembrarmos dos amalequitas?

A filosofia hasídica explica que Amalek é mais do que uma mera nação. Amaleque representa a antítese da inspiração espiritual. Embora hoje em dia, não possamos identificar os amalequitas como nação, podemos, sem dúvida identificar a sua manifestação espiritual.

Quando confrontados com problemas ou obstáculos, precisamos de ser activos e tentar redirecionar os nossos esforços no sentido de nos conformarmos com o que acreditamos ser o correcto.

O "desafio de Amaleque", no entanto, não pode ser racionalizado ou ignorado, mas precisa de ser "lembrado" e afastado, "destruído".

Na maioria das vezes, o "desafio de Amaleque" não é uma influência externa, mas sim interna, dizendo-nos para pararmos, "acalmarmos", para sermos "realistas", e para não nos "exagerarmos" com o ser judeu.





É aí que a importância de "lembrar" entra em jogo, para podermos reconhecer e destruir este tipo de sentimentos precisamos de estar cientes e conscientes desse fenômeno. Só então, podemos abraçar plenamente o nosso orgulho judaico e a nossa paixão pelo judaísmo.


Shabat Shalom!
Cortesia do Rabino


Eli Rosenfeld
chabadportugal.com




Fontes das Imagens:





http://abrancoalmeida.com/tag/museu-do-prado/

Todos diferentes, porém todos iguais....




Shabat Shalom!


Pintura de Max Weber

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O dia de hoje na história judaica | 6 Adar 5775





Moshê Completa a Torá
(1273 AEC)



Moshê completou o Livro de Devarim, concluindo sua revisão da Torá que tinha começado várias semanas antes, a 1º de Shevat. Ele escreveu os Cinco Livros completos, palavra por palavra, como lhe foi ditado por D'us. Este Rolo de Torá foi colocado na Arca Sagrada, próximo às Tabuas do Testemunho.




Também a 6 de Adar, muitos anos depois…




Primeira Impressão da Torá
com Onkelos & Rashi (1482)



A primeira edição dos Cinco Livros de Moshê (Torá) com o Targum Onkelos (tradução aramaica da Torá) e o comentário do famoso Rabi Shlomo Yitschaki, conhecido como Rashi, foi publicada nesta data em 1482. Foi publicada em Bolonha, Itália, por Joseph Abraham Caravita, que montou uma gráfica em sua própria casa.


Fonte:

http://www.pt.chabad.org/calendar/view/day.asp?tdate=2/25/2015&id=908368


domingo, 22 de fevereiro de 2015

O dia de hoje na história judaica | 3 Adar 5775






O Segundo Templo é concluído
(349 AEC)



A alegre dedicação do Segundo Templo Sagrado (Beit Hamicdash) no local do Primeiro Templo em Jerusalém foi celebrada em 3 de Adar do ano 3412 da Criação (349 AEC), após quatro anos de obras.



O primeiro Templo, construído pelo Rei Shelomô em 833 AEC, foi destruído pelos babilónios em 423 AEC. Naquela época, o Profeta Yirmiyahu profetizou: 




“Assim diz o Eterno: Após setenta anos para a Babilônia Eu o visitarei… e devolverei você a este local.”

"Profeta Jeremias" por Rafael Vieira Jeremias - Obra do próprio. Licenciado sob CC BY-SA 3.0




No ano 371 o imperador persa Ciro permitiu que os judeus retornassem a Judah e reconstruíssem o Templo, mas a construção foi parada no ano seguinte quando os samaritanos persuadiram Ciro a retirar a permissão. Achashveroh II (de Puriim) manteve a moratória. Somente em 353 – exatamente 70 anos após a destruição – o Templo voltou a ser construído sob Dario II.





Fontes:

http://www.pt.chabad.org/calendar/view/day.asp?tdate=2/22/2015&id=908357
"Profeta Jeremias" por Rafael Vieira Jeremias - Obra do próprio. Licenciado sob CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons - http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Profeta_Jeremias.jpg#mediaviewer/File:Profeta_Jeremias.jpg

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Rosh Chodesh Adar


Shabat Shalom!


Blessing-moon contemporâneo/ abstracto de
Cynthia Ligeros.

Cartas de Lisboa | Terumah





Terumah



A nossa parsha esta semana contém as instruções e indicações detalhadas, para a construção do Mishcan, o Tabernáculo, o predecessor do Templo.



Planta do Tabernáculo



Enquanto é certo que cada parte e utensílio específico tenha sido projetado com uma função específica em mente, ainda assim eles também contêm mensagens importantes e lições para nós.



 
Ao entrar no pátio do Mishcan poder-se-ia encontrar o "qiyor", um lavatório de cobre utilizado pelos kohanim para se purificarem antes de iniciar o serviço no Templo.

Este acto aparentemente mundano, diz Dom Abarbanel, contém uma lição profunda:




O objetivo do Mishcan era melhorar o relacionamento com D-us, ver e participar no seu serviço que foi concebido para inspirar e conectar a pessoa a D-us.

Para atingir este objetivo, às vezes maus hábitos e comportamento negativos precisam de ser lavados.

Dom Abarbanel diz, que este é o que este lavatório especial, o "qiyor", representa. Além disso, acrescenta, lavar o que é negativo não é suficiente, há também necessidade de uma infusão de elementos positivos, a necessidade da água.

Água, na tradição judaica, reflete a ideia de Torá. Fluindo para baixo do alto e para todos os locais possíveis, os valores e os ensinamentos da Torá são a nossa ajuda onde quer que estejamos.



Ao nos aproximarmos do Tabernáculo, esta estrutura especial 
torna-se verdadeiramente eterna.



Como nossos antepassados ​​antes de nós, podemos também ser elevados por este lugar especial. Embora, não possamos realmente atravessá-la, nós podemos fazê-lo na nossa imaginação, evocando a espiritualidade e a majestade que aí foi sentida por todos.



Ao tal fazer, vamos continuar a "construir" o Tabernáculo, e a promover a sua finalidade e função, para nos aproximar mais, e mais conscientemente de D-us e da Torá.



Shabat Shalom!
Cortesia do Rabino 


Eli Rosenfeld
chabadportugal.com

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O dia de hoje na história judaica | 30 Shevat 5775




Tosfot Yomtov

O Rabbi da Cracóvia (1644)



Dia 30 de Shevat é celebrado pelos descendentes de Rabi YomTov Lipman Heller (1579-1654) como um dia de agradecimento, por ter sido libertado da prisão em Viena em 1629.




Um retrato célebre de 1887 de Yom Tov Lipman Heller, o "Yom Tov Tosfos" trouxe em dez vezes mais à sua estimativa de pré-venda no leilão de Kestenbaum & Company  de Arte Judaica, que teve lugar em 12 de março de 2014. Tendo destaque na capa do catálogo do leilão, este óleo grande, marcante e bem enquadrado na lona comandou muita atenção. O valor foi estimado em US $ 12,000-18,000, houve licitação através da estimativa mais alta, e a partir daí, duas licitadoras determinadas bateram-se até que a pintura atingiu o valor de US $ 120.000..





Rabi Yomtov Lipman foi uma das importantes figuras rabínicas do início do Século XVII. Conhecido como Yomtov pelo seu comentário sobre a Mishná com este nome, também escreveu comentários importantes sobre o Rosh e outras obras rabínicas. 



Discípulo do famoso Maharal de Praga, Rabi Yomtov Lipman foi escolhido, aos 18 anos, para atuar como dayan (juiz rabínico) naquela cidade. Mais tarde ele preencheu vários cargos rabínicos de prestígio, incluindo o de Rabino de Nikolsburg e de Viena.
Em 1627 foi chamado novamente a Praga para atuar como Rabino Chefe da cidade. Este cargo granjeou-lhe vários inimigos poderosos, quando se recusou a seguir os ditames dos cidadãos ricos e influentes de Praga, e esforçou-se para aliviar o fardo sobre os pobres pelos extorsivos impostos que recaíam sobre os judeus.

Os seus inimigos denunciaram-no ao governo, acusando-o falsamente de traição. Em 1629, Rabi Yomtov Lipman foi preso, julgado e condenado à morte. As comunidades judaicas da Boêmia conseguiram que a sentença fosse comutada e reduzida a uma pesada multa, e levantaram os fundos para pagar a primeira parcela, que garantiu sua libertação.

No entanto, os seus inimigos conseguiram uma decisão imperial que ditava que ele não poderia oficiar como rabino em nenhuma cidade do Império, deixando-o destituído e sem lar.
Demorou muitos anos até conseguir pagar a multa e ser restaurado o cargo anterior. Foi somente no inverno de 1644, quando se estabeleceu na Cracóvia após ser nomeado Rabino Chefe da cidade, que ele sentiu ser possível celebrar sua liberdade e restauração. 

O dia 30 de Shevat (1º dia de Rosh Chodesh Adar) – o dia em que Rabi Yomtov Lipman assumiu o rabinato da Cracóvia – foi celebrado por ele e sua família como um dia de agradecimento a D'us.

Rabi Yomtov Lipman pediu às futuras gerações que continuassem a celebrar a data, e o costume é mantido pelos seus descendentes até o dia de hoje.



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Curiosidades judaicas | Argozelo




Argozelo


Fotos da Vila de Argozelo



Argozelo (ou Argoselo) é uma vila portuguesa do concelho de Vimioso na região de Trás-os-Montes. Situada nas regiões naturais de Deilão e Lampaças, trata-se de uma das maiores aldeias do distrito de Bragança que apresenta o tipo de paisagem típica da Terra Fria Transmontana.



Por carta de El-rei D. Dinis de 1319 integrou o concelho de Miranda do Douro, passando depois para o antigo concelho de Outeiro e mais tarde para o de Vimioso.

Castelo de Algoso – Vimioso

Argozelo possui um bairro judeu, conhecido de Bairro de Baixo, conhecido popularmente por ser habitado exclusivamente por descendentes endogâmicos dos judeus forçados à conversão. Os cripto-judeus, apesar de serem publicamente católicos, continuaram a praticar o judaísmo em segredo. 



Bairro de Baixo (rua da judiaria)



Todos sabiam quem eram os "Judeus", não casando durante muito tempo os cristãos-velhos com os cristãos-novos, pois nem sequer era autorizado. Posteriormente começou-se a transgredir esta norma com algumas reservas.

Também uma cruz, com mais de 350 anos, que se ergue no largo do Sagrado é associada segundo alguns populares aos judeus, estando situada onde em tempos poderia ter sido um cemitério judaico, tal como os locais onde existiram os tanques onde eram tratadas as peles.



Cruz de Argozelo






O judaísmo nesta vila está ligado ao curtume das peles, sendo o símbolo de judeu atribuído aos peliqueiros e almocreves.
Casa de um peliqueiro em Argozelo









Fontes:


Por Caeiro