sexta-feira, 27 de junho de 2014

Cartas de Lisboa | Música e Inspiração‏





*Esta terça-feira, o Terceiro Dia de Támuz marca o Vigésimo Yahrtzeit do Lubavitcher Rebbe. Em Portugal um evento em honra do legado e ensinamentos do Rebbe terá lugar no dia 10 de Julho.



Chukat


"Este é o estatuto da Torá”.

Estas palavras são parte da secção de abertura da Parsha desta semana.



Contudo, em vez de uma discussão profunda sobre a essência da Torá, o que aqui encontramos é algo de âmbito bem mais limitado. O que se segue à grandiosa afirmação acima referida são os muitos detalhes referentes a uma muito única Mitzvá, “parah adumah: o Bezerro Vermelho.




Porque será que uma lei na sua singularidade e esta secção da Torá merecerão uma introdução tão abrangente?

Que lições genéricas poderão ser retiradas da lei do Bezerro Vermelho para a Torá na sua totalidade?

Dom Isaac Abarbanel no seu comentário sobre esta Parsha analisa em pormenor os detalhes desta Mitzvá.

Ele ilustra as importantes qualidades e lições que saem desta Mitzvá tão única e como se relacionam com a nossa abordagem ao estudo da Torá no geral.

Como é bem sabido, o animal em questão tinha de ser um espécime perfeito, completo sem o menor defeito.




Isto, diz Dom Isaac Abarbanel, reflecte a nossa abordagem à Torá. O conhecimento de que para nós a Torá é perfeita, deve-se cada um dos seus detalhes ter sido cuidadosamente preparado por D-us para nós cumprirmos na sua totalidade.




Além disso um animal em que tenha sido posta uma carga estaria desqualificado para ser considerado para esta Mitzvá.

Do mesmo modo, no nosso cometimento para com a Torá, outros interesses alternativos não se podem interpor no caminho do nosso estudo e devoção. Mais, assim como o processo da matança revela o que estava ocultado e escondido, também a Torá tem aspectos revelados e escondidos, cuja profundidade tem de ser explorada e trazida à luz do dia.




Antes de se poder completar o processo de purificação precisávamos de lavar as nossas roupas. Roupas são uma referência aos nossos Midot – comportamentos.





Uma pessoa que estuda a Torá tem de garantir que este estudo afecta o seu comportamento de modo a que possa reflectir com propriedade as ideias que aprendeu, ou seja ser um embaixador da Torá e dos seus ensinamentos.

Uma outra importante lição é a necessidade de incluir o Cohen, o sacerdote, cuja função era de guiar os demais no serviço de D-us.



Isto recorda-nos da importância de permitirmos a nós próprios ser inspirados e ensinados pelos nossos Rabinos e Mestres.





Shabat Shalom
Cortesia do Rabino


Eli Rosenfeld
chabadportugal.com



Imagens:

Franz Marc
Tissot

השבת בירושלים



Shabat Shalom!



















Pintura de Tuuli Levit

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O dia de hoje na história judaica | 28 Sivan 5774




O Rebbe chegou aos Estados Unidos  
(1941)


Rabi Menachem Mendel Schneerson

Após escapar da Paris ocupada pelos nazis, e muitos meses perigosos em Vichy, na França, o Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson e sua esposa, Rebetsin Chaya Mushka embarcaram no navio Serpa Pinto em Lisboa, Portugal.

Na segunda-feira 23 de junho – 28 de Sivan no Calendário Judaico – às 10:30 da manhã, eles chegaram a Nova Iorque.

Logo após sua chegada, o sogro do Rebe, então Rebe Lubavitcher, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn (que tinha sido resgatado da Varsóvia ocupada pelos nazis em 1940), nomeou-o para liderar os programas sociais e educacionais de Chabad-Lubavitch. Assim o Rebe começou sua obra revolucionária, com décadas de duração, para revitalizar a vida judaica no Hemisfério Ocidental, que se espalhou, através dos emissários (shluchim) que ele despachou da sede em Nova Iorque para os quatro cantos do mundo.


Curiosidades
Visita a Lisboa


Entre os muitos refugiados que passaram por Portugal e Lisboa na fuga do Shoah estava o grande tzadik, o Rabino Menachem Mendel Schneerson, que mais tarde viria a ser o 7º Lubavitcher Rebbe. O Rebbe viajava da França com a sua mulher a Rebetsin Chaya Moussia, filha do 6º Rebbe.



Pouco se sabe sobre a estadia do Rebbe em Portugal, uma vez que falta fazer um trabalho de pesquisa nos arquivos nos Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Administração Interna. O que se sabe é que deixou Portugal no dia 17 de Sivan 5701 (12 de Junho 1941) no navio Serpa Pinto da Companhia Colonial de Navegação para Nova Iorque. Viajaram 1ª Classe, Porão. A mala de viagem utilizada para a travessia do Atlântico ainda existe na sede do movimento Lubavitch em Nova Iorque.

Nos acervos do Rebbe existem notas para uma palestra, escritas durante a estadia em Portugal, sobre um texto bastante obscuro, tirado do tratado de Sanhedrim do Talmud, sobre a vinda de Moshiach:

"O filho de David só virá quando procurarem peixe para os doentes e não encontrarem nenhum."

Desconhece-se onde o Rebbe deu a sua palestra mas terá sido na Comunidade Israelita de Lisboa ou noutro local.



Aproveito para vos deixar um pequeno apontamento sobre: O navio Serpa Pinto.

Foi o navio de passageiros que, durante a Segunda Guerra Mundial mais viagens transatlânticas realizou entre Lisboa, Nova Iorque e Rio de Janeiro, transportando refugiados da guerra em geral, e particularmente judeus em fuga do nazismo, trazendo de volta à Europa, cidadãos de origem germânica expulsos dos países americanos. Adquiriu assim popularidade, ficando conhecido pelos epítetos de "Navio da Amizade", "Navio Herói" e "Navio do Destino".





Fontes:

"O Rebe" | Pintura de Michael Khundiashvili


segunda-feira, 23 de junho de 2014

Curiosidades Judaicas | Concelho de Portalegre




Carreiras



Vista parcial da aldeia de Carreiras (Portalegre)

pelo olhar de José Almeida.



Carreiras, é uma freguesia portuguesa do concelho de Portalegre, na região do Alentejo, com cerca de 600 habitantes.

A aldeia de Carreiras, com mais do que provável origem medieval, terá sido terra de acolhida de alguns Judeus vindos da Judiaria de Castelo de Vide, estabelecendo-se aqui como cristãos-novos.



Rua Nova (Carreiras, Portalegre)



É muito provável que o local da Judiaria de Carreiras estivesse na zona da Rua Nova, como em qualquer povoação da Portugal onde existiam Judeus.


















Desde tempos recuados que existem em Carreiras os apelidos Carvalho e Pereira, muito comuns a Judeus portugueses obrigados à conversão. Até ao século XX as mulheres costumavam entrar na igreja pela porta lateral, tal como nas sinagogas, enquanto os homens entravam pela principal.



Igreja de São Sebastião e adro (Carreiras, Portalegre)




Ainda se conserva na tradição popular a quadra:


"Adeus porta pequeninha
Por onde as mulheres se servem!
E por causa das mulheres
Tantos delitos sucedem..."


Travessa do Cimo da Rua (Carreiras, Portalegre)


E esta foi mais uma aldeia por onde passaram os nossos antepassados. Como podem verificar, muito pouco há para contar sobre este pedacinho de terra, mas não consigo resistir à partilha deste testemunho. À medida que vou pesquisando sobre a presença judaica no nosso país, cada vez mais acredito que há ainda muito por descobrir!


Mas fico sempre com uma sensação de vazio, descobrimos os locais, podemos ver provas vivas que deixámos para trás, como Aron Kodesh, mezuzot, cartas forais, frases inscritas nas pedras, um sem fim de marcas cruciformes, etc., mas...

Onde andam hoje os descendentes dos filhos destas terras? Bom, sabemos que  alguns continuam sem saber quem são, outros continuam a não querer saber quem foram, outros partiram e não voltaram e por fim, uma pequena percentagem;  os que sabem e que procuram provar as suas origens dando-nos a conhecer que afinal muitos ainda andam por cá. Enfim, temos que ser pacientes.


Deixo-vos agora com mais algumas aguarelas de João Salvador Martins
a partir de fotografias antigas de Carreiras (Portalegre).



Casas Nogueiras | Arco da Fonte Nova | Fonte Nova




Chaminé na zona da Fonte Nova | Rua de Baixo 






Fontes:

Por Caeiro


Aguarelas de Carreiras:
De João Salvador Martins
GoogleMaps

domingo, 22 de junho de 2014

Bach!


Laila Tov!


Pintura de Nathan Brutsky


Curiosidades Judaicas | Vertente Norte da Serra da Estrela





GOUVEIA

 

Postal antigo com vista parcial de Gouveia



Gouveia é uma cidade portuguesa, no Distrito da Guarda, situada na vertente norte da Serra da Estrela. Nesta cidade existiu uma comunidade judaica bem organizada.

Em 1083 D. Fernando I, Magno, Rei de leão e Conde de Castela, integrado no movimento chamado da Reconquista Cristã retomou Gaudela aos Mouros. O primeiro foral de Gouveia foi concedido no ano de 1186 por El-rei D. Sancho I e confirmado por D. Afonso II em Coimbra em 1217.



D. Sancho I e D. Afonso II de Portugal



Porém, esta carta foral desapareceu, como tantas outras. Não se colocando a dúvida da concessão do foral por D. Sancho I, apesar do seu “desaparecimento”, este está relacionado com uma Carta Régia datada de 15 de dezembro de 1481, que determinou a remessa à Corte de todos os forais, a fim de se proceder à respetiva reforma, sob pena de perderem validade. Tal revisão ainda se encontrava por fazer quando D. Manuel I subiu ao trono - situação que levou os munícipes a solicitarem novamente essa revisão, agora nas cortes de Montemor-o Novo de 1495. Nessa altura, o rei impôs, em 1497, o envio à Corte dos forais que ainda não tinham sido entregues, nomeando para tal uma Comissão.  Esta, por exemplo, é uma carta foral  já Manuelina e do ano 1514.



A Judiaria de Gouveia


A judiaria de Gouveia, rodeando a cidade a oeste, ter-se-ia desenvolvido com orientação sul-norte. Iniciada com uma pequena comuna tendo cerca de 50 Judeus em meados do século XV, no final da centúria, seriam quase 200 famílias. Encontravam-se aqui os Adida, Abenazo, Baruc, Faravam, Navarro e Sacuto.


Os Judeus que habitavam Gouveia estiveram sempre ligados ao trabalho da lã, atividade clássica desde há muito nesta cidade. Localizada nas proximidades da Estremadura espanhola, depois da data de expulsão dos Judeus de Espanha, a vinda dos refugiados provocou o desenvolvimento da indústria de lanifícios, praticado então de jeito muito rudimentar, tendo-se modernizado e intensificado o trabalho dos lanifícios. Nomeadamente utilizando engenhos movidos a energia hidráulica, que provinha das ribeiras caudalosas da vila. 



Homenagem aos operários dos lanifícios



Aliás, os judeus espanhóis expulsos construíram no outono-inverno de 1496 uma sinagoga que não chegou a ser inaugurada por causa da ordem de expulsão do Rei Manuel a I de dezembro desse ano. Porém, em 1967 foi encontrada uma pedra pertencente a essa sinagoga numa casa da Rua Nova em plena judiaria de Gouveia. Nessa pedra pode ler-se: 

«A glória desta Última casa será maior que a primeira; Diz o "Hashem" (Senhor) dos Exércitos: a casa da nossa santificação, da nossa glória, e os resgatados pelo Senhor, voltarão e regressarão a Sião em alegria.»



Rua Nova, Gouveia
(não consegui identificar a casa em questão L)


A judiaria de Gouveia englobava toda a parte oeste da cidade, e tem como principais pontos a chamada hoje em dia Rua da República, as Escadas do Ouvinho, a Rua das Flores, Travessa de Santa Cruz.




Fica para a história a força e o ódio, que no período entre 1525 e 1530, fomentado por D. João III atingiu, tornando conhecido este episódio relatado por Meyer Kayserling:

«Em Gouveia foi encontrada em pedaços uma imagem de Maria, muito adorada pelo povo. Este sacrilégio, atribuído aos cripto judeus da cidade, levou à prisão de três deles, que foram soltos após alguns dias. A massa enfurecida acusou os judeus de suborno. [...] O inquérito contra os cripto judeus libertados foi reiniciado por insistência dos moradores. Falsas testemunhas depuseram contra os acusados e, como ficou provado mais tarde, devido a acusações caluniosas, morreram na fogueira como hereges e profanadores de imagens sagradas.»




Vista de Gouveia 1925 | óleo sobre tela 31 x 40 | cm. Museu 
Abel Manta Gouveia, Portugal





Fontes:


Por Caeiro


sábado, 21 de junho de 2014