sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

What's your Har Sinai Moment?



Shabat Shalom!


Pintura de Sylva Zalmanson

Shabat e Rosh Chodesh




Este Shabat marca o início do 
mês de Adar.



Blessing on the moon by Steve Karro



Ainda que todos os Shabates sejam especiais, a combinação única de Shabat e Rosh Chodesh cria uma sinergia entre dois poderosos elementos.

No Shabat Rosh Chodesh Adar em 1984, o Rebe de Lubavitch discutiu as lições a tirar, quer de Shabat, quer de Rosh Chodesh e de como eles se ligam.

Por um lado, cada lua nova no calendário judaico é determinada pelo ciclo da lua. Nalgumas noites podemos ver a lua na sua totalidade e outras vezes absolutamente nada.

Por seu lado, Shabat e os dias da semana são governados pelo constante nascer e pôr-do-sol. 




O impacto do sol é constante e óbvio em cada dia, enquanto que a delicada luminosidade da lua é sempre diferente.



Na nossa relação com D-us, explica o Rebe, Rosh Chodesh e Shabat ensinam-nos duas lições diferentes, a saber, a importância da consistência e do entusiasmo.

Consistência é parte integral do judaísmo. Os rituais diários incluindo a oração e outros mitzvot são interiorizados e tornam-se parte do nosso próprio ser.

Contudo, e apesar da importância da consistência, nem todos os mandamentos podem ser executados a cada momento. Por exemplo, a oração especial do Hallel, em que tão lindamente louvamos a D’us, apenas pode ser recitada em ocasiões especiais como seja Rosh Chodesh e não diariamente. Quando fazemos algo repetidamente corremos o risco de perder o nosso entusiasmo inicial.



Blessing on the moon by Elena Flerova


Quando Shabbat e Rosh Chodesh coincidem, temos estes dois conceitos em simultâneo. É então a altura ideal para fundir ambos os modos de relacionamento com o Divino.
Com o entusiasmo de Rosh Chodesh e a devoção de Shabat podemos ter o melhor dos dois mundos. 



Blessing on the moon
 by Elena Flerova


Que todos sejam abençoados com um óptimo novo mês e com a capacidade de beneficiar da especial energia espiritual que nos é trazida por este Shabat Rosh Chodesh.


Shabat Shalom e Chodesh Tov!


Cortesia de
Rabino Eli Rosenfeld


chabadportugal.com

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Judiaria numa vila portuguesa no Distrito de Castelo Branco




PENAMACOR


Vista parcial de Penamacor


Penamacor é uma vila portuguesa no Distrito de Castelo Branco, região Centro e sub-região da Beira Interior Sul, com cerca de 1 500 habitantes.

Elevada a vila em 1199, o desenvolvimento desta povoação, nos finais do século XII, deve-se à necessidade de protecção da fronteira portuguesa, pelo que foi construído um castelo (Castelo de Penamacor), que ainda hoje podemos ver e é considerado monumento nacional.



Castelo de Penamacor


Penamacor possui vestígios da antiga judiaria do século XV nas cercanias da Rua de S. Pedro, uma das ruas históricas da vila.




A documentação existente sobre as actividades dos membros desta judiaria, leva a crer que possivelmente existiram em Penamacor mais agricultores do que artesãos.




O incremento do número de habitantes Judeus após a expulsão dos reinos de Espanha aconteceu devido à situação de grande proximidade da fronteira.

Penamacor foi uma das mais martirizadas pela perseguição do Tribunal da Inquisição portuguesa na primeira metade do século XVIII. Praticamente toda a judiaria foi denunciada e presa pelos carrascos daquele Tribunal. Porém, poucos foram levados à morte na fogueira. As famílias mais perseguidas foram os Ribeiro Sanches, os Nunes de Paiva, os Ribeiro de Paiva, os Henriques, os Rodrigues e os Nunes. Era um grupo entrelaçado por casamentos entre si. 

É notável que nesta Vila 128 pessoas foram processadas pela Inquisição no período de 1557 a 1778, dos quais 97 por judaísmo, representando 75% do total, 12 sem referências e o restante por outros delitos.

A Judiaria de Penamacor foi o berço de um dos mais conhecidos médicos da história portuguesa, Ribeiro Sanches (1699-1783). Cristão-novo, acusado de judaísmo. Ribeiro Sanches foi perseguido pela Inquisição em Portugal. 



Ribeiro Sanches


Alcançou grande prestígio como filósofo e médico na corte de Catarina II na Rússia e foi um dos precursores do espírito iluminista europeu que ainda hoje nos ilumina. Além disso, foi um dos inspiradores do Marquês de Pombal nas reformas de ensino.



Fontes:


A Judiaria de uma Vila Portuguesa do Distrito de Viseu


São João da Pesqueira



Vista panorâmica de S. João da Pesqueira


São João da Pesqueira é uma vila portuguesa no Distrito de Viseu, Região Norte e sub-região do Douro, com cerca de 2 200 habitantes e a 850 metros de altitude.

Vila do vinho do Porto, considerada o coração do Douro Vinhateiro, na região demarcada do Douro criado pelo Marquês de Pombal. Trata-se do mais antigo concelho do país, datado a sua criação de 1055, precedendo assim todos os outros concelhos, incluindo cidades tão importantes ao tempo da fundação; como Coimbra, Guimarães ou Lamego.

A presença de Judeus na Pesqueira está documentada, pelo menos no reinado de D. João II (1481-95), onde aparece citada entre as outras judiarias do reino. S. João da Pesqueira localiza-se numa zona onde a presença judaica foi bastante forte e, embora não fosse comparável às judiarias do Porto e de Lisboa, com as quais, aliás, mantinha estreitos contatos, a sua proximidade com outras judiarias beirãs, transmontanas e castelhanas, fazia desta vila, uma das mais estratégicas.

Durante a Idade Média e, sobretudo, a partir do século XVI, judeus e cristãos-novos tiveram um importante papel na dinamização económica do Douro. Especialmente durante a Época Moderna interessaram-se pela produção vinícola e, tirando partido da teia de relações familiares em diversos centros, desenvolveram amplas redes de comércio, solidificando a ligação entre esta região e a cidade do Porto, centro escoador natural de toda a região Norte.

Através da documentação existente, nesta vila também se encontravam Judeus a exercerem ofícios de sapateiros e alfaiates, o que quer dizer que era de extrema importância o papel dos artífices, sobretudo aos ligados à vida quotidiana.



Judiaria de São João da Pesqueira


Nas traseiras da Praça da República, no Centro Histórico, subsiste um conjunto habitacional cuja toponímia (R. dos Gatos, Tr. dos Gatos e Rua Nova) aponta para a existência outrora da pequena judiaria de São João da Pesqueira.


No local da antiga e poderosa comunidade judaica subsistem casas de xisto, distribuídas por um estreito e acanhado arruamento que imediatamente evoca as irregulares ruas das cidades medievais.



Casas da Antiga Judiaria na Rua dos Gatos


Fontes:


Fotos:

Dias dos Reis; Luís A. D. Liberal; Google Maps

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Tragédia do Colúmbia



Space Shuttle


 29 Shevat do ano 5763 da era judaica - 01 Fevereiro de 2003


Assinala-se hoje, dia 29 de Shevat de 5774, e amanhã, pelo calendário gregoriano (1 de Fevereiro de 2014), onze anos após a tragédia que se abateu sob a nave espacial Space Shuttle, provocando a morte aos seus 7 tripulantes. 




Apesar de respeitar e estar aqui a relembrar este dia por todos os tripulantes, desejo aqui destacar em especial um deles por motivos evidentes , o Ilan Ramon, (1º astronauta israelita).



Ilan Ramon


Na manhã do dia 1 de Fevereiro de 2003, o Colúmbia Space Shuttle, retornando de sua missão STS-107, foi destruído ao reentrar na atmosfera, 16 minutos antes do pouso programado. Todos os membros da tripulação morreram, incluindo Ilan Ramon, um piloto de combate da Força Aérea de Israel, que era o primeiro astronauta israelita. Antes de sua partida para o espaço na nave Colúmbia onde sua missão incluía o manejo de uma câmara multi-espectral para registo aéreo do deserto, ele teve a preocupação de levar comida casher assim como um copo de Kidush e uma cópia da Torá.

Mas Ilan não se preocupou apenas com a sua alimentação e bem-estar espiritual, ele foi mais longe e pediu algo mais:

Antes do voo, Ramon entrou em contacto com o Museu Yad Vashem e pediu para levar com ele um objecto relacionado com o Holocausto, a fim de fazer uma homenagem às suas vítimas, entre as quais a sua própria mãe.


Foi-lhe dado um desenho, Moonscape, por Petr Ginz, no qual a Terra era mostrada como se fosse vista da Lua. Os televisores transmitiram este desenho nas semanas seguintes à tragédia.



Moonscape, por Petr Ginz


Ilan Ramon nasceu a 20 de Junho de 1954, em Ramat Gan, e foi o primeiro astronauta israelita. Morreu junto com outros seis tripulantes a bordo da nave Colúmbia.




Bacharel em electrónica e engenharia de computadores pela Universidade de Tel Aviv, Ramon foi um dos melhores pilotos militares de Israel, com experiência em diversos tipos de caças de combate e interceptação, como os Mirage III e os F-16 Falcon - tendo combatido na Guerra do Yom Kippur, com apenas 19 anos (1973) - e participante do esquadrão de caças-bombardeiros que destruiu a usina nuclear de Osiraq, no Iraque, em 1981 na chamada Operação Ópera.



Em 1997, então coronel da Força Aérea Israelita, integrou-se à NASA na função de especialista em cargas, e fez seu primeiro voo ao espaço na fatídica missão STS-107 da nave espacial Colúmbia morrendo com os outros seis tripulantes, após 16 dias em órbita.




Foi condecorado postumamente com a Medalha Espacial de Honra do Congresso dos Estados Unidos e é oficialmente reconhecido como Herói Nacional de Israel. Esta medalha é entregue, neste ano e pela primeira vez a um cidadão não americano.


O seu filho mais velho, o tenente Asaf Ramon, de 21 anos, morreu em 13 de Setembro 2009, durante um voo de treino quando pilotava um caça F-16A, 3 meses depois de se graduar na academia de voo da aeronáutica israelita como melhor cadete de sua classe.



Aqui, na foto que se segue, o administrador Bolden e o embaixador Shapiro a visitar os túmulos de de Ilan e Asaf Ramon no Cemitério Naalal.



Que descansem todos em paz, não só pai e filho, mas também 
todos os outros 6 elementos deste fatídico voo.



Fontes: 


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

E de volta a Portugal, vamos até à bela cidade do Porto.



As Judiarias do Porto


Vista parcial da cidade do Porto


Porto, a capital do Norte de Portugal, é uma cidade metrópole que é constituída pelos municípios adjacentes que formam entre si um único aglomerado urbano. Conta com cerca de 1,3 milhões de habitantes, o que a torna a maior do noroeste peninsular.

É a cidade que deu nome a Portugal, quando se designava Portus Cale, vindo mais tarde a tornar-se a capital do Condado Portucalense. Devido ao seu caráter comercial atraiu desde muito cedo os mercadores judeus.

Durante a Idade Média no Porto houve três judiarias: a Judiaria Velha, a Judiaria de Monchique e a Judiaria Nova do Olival que contaram, possivelmente com quatro sinagogas.



Localização das Judiarias do Porto


Judiaria Velha

A Judiaria Velha ficava situada na parte alta do morro da Sé, dentro da "cerca velha", também chamada "muralha suévica", ali por perto da Rua da Aldas (hoje Rua do Arco de Santa Ana) e perto das atuais Rua Escura e Largo do Colégio, onde ainda se pode apreciar a planta medieval das ruas. Pouco se sabe dela, nem do ponto de vista arqueológico, nem do ponto de vista documental, mas apenas que foi o núcleo mais antigo da fixação de comunidades judaicas (século XIII). A “Comuna dos judeus” era, por certo, um agrupamento social de artesãos e comerciantes, tendo, sem dúvida, um pequeno edifício estruturalmente adaptado como sinagoga.



Localização da Judiaria Velha no alto do Morro da Sé do Porto


Todavia, os comerciantes e artesãos judeus estendiam a sua atividade pelas ruelas do morro até à baixa da Ribeira e da Rua da Alfândega, junto ao rio Douro e perto da Basília de São Francisco, onde estava o ancoradouro dos barcos, onde se movimentava o comércio e onde eles tinham as suas lojas. Por este motivo, é provável que alguns Judeus tivessem levantado uma sinagoga suplementar ou santuário quase doméstico na zona baixa, junto da que se chamou a Rua da Munhata ou Minhota, entre os conventos de S. Domingos e de S. Francisco (agora Rua do Comércio). Por um aforamento de 1386, sabe-se, de facto, que os Judeus tinham uma sinagoga na loja do marinheiro Lourenço Peres, situada na Rua da Munhata. Seria esta a chamada “Judiaria de Baixo” e era ali a segunda sinagoga, que ficava por baixo da encosta da Vitória, onde, mais tarde, se construiu a Judiaria do Olival e a sua sinagoga.


Judiaria de Monchique


Na zona fluvial de Monchique (freguesia atual de Miragaia), extramuros, formou-se posteriormente uma outra judiaria, ocupando uma área que ia das Virtudes até ao Convento de Monchique, Rua da Bandeirinha e Largo do Viriato. 



Vista da zona de Monchique/Miragaia


A partir do século XIII foi proibido alugar ou vender-lhes propriedades dentro da Cividade onde se achava a Judiaria Velha, devido a este facto os Judeus deslocaram-se para este local.

Nessa zona ainda persistem, ligados à presença dos Judeus, vários topónimos: Monte dos Judeus, Escadas do Monte dos Judeus, Largo dos Judeus ou Rua do Monte dos Judeus.



Judiaria de Monchique


Na Rua do Monte dos Judeus em 1826 foram encontradas as mais importantes inscrições hebraicas de Portugal, agora exibidas no Museu Arqueológico do Carmo de Lisboa.





Escadas do Monte dos Judeus






É nesta zona que por volta de 1380, o rabino-mor do rei, D. Fernando Don Yahuda Ibn Maner, funda a terceira sinagoga do Porto. Dela existe um documento notabilíssimo, que é a inscrição de inauguração, a maior inscrição conhecida dos judeus em Portugal. Os judeus tiveram, portanto, judiaria aberta em Monchique entre 1380-86. O local da antiga sinagoga é desde o 1535 o Convento das Clarissas e a Capela do Convento da Madre de Deus de Monchique.


Extinto convento de Monchique






Muito perto, do lugar a que hoje chamam “Monte dos Judeus” é que teria sido o cemitério judaico, o Maqbar. Porém, não existe unanimidade no que toca à sua real localização. Enquanto uns historiadores o situam no local do atual Palácio das Sereias/Mamudas no fundo da Rua Bandeirinha, outros acham que terá sido muito para oriente no final da Calçada das Virtudes, próximo da Igreja de S. Pedro de Miragaia.


Judiaria Nova do Olival


Em 1386, o rei D. João I mandou instalar os Judeus dispersos pelo Porto num espaço intramuros, justificando a medida por questões de segurança (a eminência das guerras com Espanha) em simultâneo no tempo, em que o espaço das antigas judiarias se tornara escasso para conter todos os Judeus da cidade. D. João mandou a Câmara do Porto assinalar um lugar apartado dentro dos muros da cidade para construir uma nova judiaria, sendo escolhido o sítio do Olival.

O gueto judaico ocupava um terreno de 30 courelas e por ele se pagavam anualmente 200 maravedis, tal como estipulava o contrato celebrado com a Câmara a 2 de Junho de 1388. Em pouco tempo e de forma muito racional, os Judeus urbanizaram uma zona erma e economicamente desinteressante, edificando eles a sua sinagoga e casas de habitação ao longo de uma extensa artéria em L, que se denominou Rua da Judiaria Nova do Olival, pois só anos mais tarde é que se rasgaria a Rua Nova ou Formosa, depois Rua Nova dos Ingleses (atualmente Rua Infante D. Henrique) entre o Convento de S. Francisco e a desembocadura da Rua dos Mercadores, por norma considerada como o primeiro projeto urbanístico moderno do Porto.



Maqueta da Judiaria do Olival do Porto


Esta judiaria construía um autêntico gueto, o que permita controlar a movimentação dos Judeus. Aqui, estes tinham liberdade de acção na cidade, comprando e vendendo, mas estavam obrigados a recolher à judiaria à noite, ao toque de Trindades, na torre da porta do Olival. Segundo o estatuto de “gente de nação” ou “os meus judeus”, como diziam então os reis portugueses, a comunidade contava com oficiais próprios, livremente eleitos, sendo a Comuna dos Judeus uma alternativa étnica à Câmara dos Cristãos, uma espécie de concelho dentro do concelho.

A Judiaria Nova do Olival situava-se no actual espaço do quarteirão da Vitória, nas ruas que hoje rodeiam a igreja de Nossa Senhora da Vitória, entre o Mosteiro de São Bento e a Rua de Belmonte.



Arruamentos da Judiaria do Olival do Porto


Este bairro judeu desenvolvia-se em torno dum eixo principal (norte-sul) constituído pela Rua de S. Miguel (que hoje corresponde às ruas de S. Bento da Vitória e de S. Miguel), em torno do qual se abriam travessas perpendiculares, incluindo também a atual R. das Taipas. 


Rua S. Bento da Vitória


Início da rua entrando pelos Clérigos





À direita, a Travessa de São Bento



Travessa de São Bento 





Rua S. Miguel da Vitória



Foto da esquerda: Início da rua entrando pela R. de S. Bento 



Ao fundo a Igreja de Nossa Senhora da Vitória



Foto da Direita: R. de S. Miguel da Vitória entrando pela R. das Taipas


Era um burgo dentro do burgo, limitado a norte por uma viela que seguia para as barreiras, ficando no seu exterior o "outão" e o forno do Olival. Tinha duas portas, uma à entrada voltada para o Largo da Porta do Olival (atual R. de São Bento da Vitória) e outra de saída situada nas Escadas da Esnoga/Sinagoga (hoje Escadas da Vitória) e onde se colocou uma placa a recordar esse nome.


Escadas da Esnoga




Escadas da Esnoga do Porto


Entroncamento das Escadas na R. Vitória


A Sinagoga estava situada no topo das Escadas da Vitória. Este local veio depois a ser ocupado pela Igreja de Nossa Senhora da Vitória.



Igreja de Nossa Senhora da Vitória



A igreja vista da Rua da Vitória


Segundo uma hipótese, um pouco mais a norte, no Passeio das Virtudes, localizar-se-ia o cemitério judaico do Porto.

Os judeus aqui viveram e prosperaram, tendo assimilado, em 1487, os Hebreus expulsos de Castela. Aliás, em 1492, quando da expulsão dos Judeus dos reinos de Espanha, o rei português D. João II negociou com o rabino Isaac Aboab, rabino-mor (gaon) de Castela, o estabelecimento de trinta famílias de Judeus expulsos na judiaria do Olival, dando origem às trinta casas da courela dos judeus, como informa o médico Emanuel Aboab na sua Nomologia.

O édito de expulsão de D. Manuel I de dezembro de 1496 ditou o fim da Judiaria e muitos Judeus abandonaram o reino, enquanto outros se convertiam ao cristianismo. Estes passaram a designar-se cristãos-novos. 

Quer porque muitos abandonaram as suas casas, quer porque os que se converteram não queriam ficar ligados ao passado judaico, o facto é que a zona desta antiga judiaria ficou quase deserta por volta do século XVI. Então as casas desabitadas foram entregues a cristãos velhos. Desta Judiaria é oriundo o célebre filósofo Uriel da Costa, que viveu na cidade de Amsterdám (Holanda).

Pelas cartas régias de 1534 e 1539, o rei ordena que os cristãos-novos que se tinham fixado na praça da Ribeira ou noutros locais da cidade voltassem à rua de São Miguel (designação que incluía as atuais ruas de São Bento da Vitória e de São Miguel).

No espaço das trinta casas da courela dos judeus ergueu-se, no século XVI-XVII, o Mosteiro de São Bento da Vitória, um mosteiro beneditino. Na padieira da portaria do mosteiro foi colocada uma inscrição latina: "Quae fuerat sedes tenebrarum est regia solis. Expulsis tenebris sol benedictus ovat". (O palácio foi a sede da escuridão do sol. E ao expulsar a escuridão, o sol abençoou-a) Tal levou muitos historiadores a suporem que tivesse sido aqui a sinagoga. Atualmente crê-se que teria sido na igreja paroquial da Vitória.

Posteriormente, nos seus muros foi colocado um Memorial Historiado e Litúrgico de mármore, em língua hebraica e portuguesa, em recordação dos Judeus expulsos e dos que foram obrigados a converterem-se ao cristianismo.





Sabe-se que muitos cristãos-novos continuaram a praticar o judaísmo clandestinamente, no entanto, devido ao seu velho e consistente passado judaico e devido a essa herança estrutural “marrana” do Porto, inconsciente mas pressentida e intuitiva, a Inquisição apenas funcionou no Porto durante dois anos e só realizou um auto-de-fé porque o povo do Porto não a aceitou, e nem denunciava os que se esconderam e acabaram por acolher os que passaram a ser cristãos-novos.

Nos princípios do século XVII, mercadores com as suas lojas, gente de prol, mais tarde os magistrados e funcionários do Tribunal da Relação passaram a viver na Rua da Judiaria Nova (agora denominada de S. Miguel, mais extensa que a atual, porque abrangia também a Rua de S. Bento da Vitória de hoje).

Quando em 1920 o militar Artur Carlos de Barros Basto tentou a retomada do judaísmo entre os marranos, o Porto tornou-se no centro das suas atividades. A congregação "Mekor Haim" foi estabelecida em 1927. Em 1929 abriu-se a Sinagoga Kadoorie, albergando tanto a congregação quanto o seminário de estudos religiosos. O templo da comunidade israelita do Porto acha-se no bairro de Boavista, no nº. 340 da R. Guerra Junqueiro. Na década de 1970 a comunidade judaica do Porto contava com 100 pessoas.

Em 2003, no decurso de obras numa casa da Rua de S. Miguel (n.ºs 9-11) ter-se-á descoberto um Hejal/Ehal (arca santa, ou Aron hakodesh o elemento central duma sinagoga), onde se guardam os rolos da Lei (Torá), por detrás de uma parede dupla desse prédio. Este armário em nicho foi descoberto após abater uma parede falsa no lado oriental da casa.




O armário judaico foi identificado por arqueólogos e historiadores da Faculdade de Letras da Universidade do Porto como um dos quatro existentes em Portugal, datando de finais do século XVI ou inícios do século XVII. Crê-se ser esta a sinagoga clandestina referida pelo médico Emanuel Aboab na sua Nomologia, publicada em Amesterdão em 1629.

Desde 2012 o imóvel do achado é considerado Imóvel de Interesse Público.



Fontes: