segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Manuscritos Hebraicos da Biblioteca do Duque de Sussex




Um Tesouro da British Library


Pentateuco Italiano do Duque de Sussex, c. 1400



     A imagem anterior mostra o início do livro de Deuteronómio (Devarim), com destaque para a letra alef, א que aparece emoldurada por uma grinalda de flores. É a primeira letra da palavra Eleh - Deuteronómio 1:1: «Estas são as palavras que Moisés falou a todo o Israel, …». O manuscrito em questão, um Pentateuco produzido em Itália, por volta de 1400, pertenceu a uma colecção de manuscritos hebraicos da Biblioteca do duque de Sussex, adquiridos em 1884 pelo British Museum, agora British Library. 




Augusto Frederico, Duque de Sussex (1773-1843)



     Augusto Frederico, duque de Sussex, foi o nono dos quinze filhos do rei Jorge III de Inglaterra (1738-1820) e da rainha consorte Carlota Sofia de Mecklenberg-Strenitz (1744-1818). O mais velho veio a ser Jorge IV de Inglaterra (1762-1830).

     Augusto Frederico foi um bibliófilo apaixonado. Dos 50 000 exemplares catalogados na sua biblioteca, 12 000 eram teológicos; destes, 300 eram manuscritos, sendo 51 hebraicos. Neste breve artigo vamos conhecer alguns manuscritos hebraicos conhecidos pelo nome do seu último dono, o duque de Sussex. 



Pentateuco Alemão do Duque de Sussex, c. 1300




Folio 1, Génesis



Capa do livro de Génesis (Bereshit) - Painel com a palavra Bereshit (“e no início”), em letras douradas, incorporado numa estrutura de arcos góticos, com um leão, uma águia, um veado e quatro dragões aos cantos.




Folio 75v, Êxodo



Iluminura de estrutura gótica, com dragões. Ao centro a palavra V’eleh, em letras douradas, no início do livro do Êxodo (Shemot) – Êxodo 1:1: «E estes são os nomes dos filhos de Israel…». A circundar a palavra V’eleh, estão dispostos 16 pequenos medalhões, cada um com um animal diferente.




Folio 137, Levítico



Painel com losangos habitados por águias e leões coroados. Ao centro, em letras douradas sobre fundo azul, a palavra Vayikra (“E chamou a Moisés,…”), no início do livro de Levítico (Vayikra).




Folio 179v, Números



Painel com híbridos, dragões e quatro cavaleiros (com a aparência de cruzados) segurando estandartes com o símbolo das quatro tribos acampadas à volta do Tabernáculo (Judá, Rúben, Efraim e Dan), e ainda a palavra Vayedaber (“E falou o Eterno a Moisés no deserto do Sinai…”), no início do livro de Números (Bamidbar). 




Folio 238, Deuteronómio






 A palavra Eleh, no início do livro de Deuteronómio (Devarim) 1:1: «Estas são as palavras que Moisés falou a todo o Israel, …», em letras douradas, situada ao centro do painel, decorado com estruturas arquitectónicas góticas habitadas por híbridos e dragões. Em baixo, um elefante incorporado numa Estrela de David. 




Folio 397v, Livro de Esther



Iluminura da página de abertura do Livro de Esther, com a palavra Va’yehi (“Aconteceu nos dias…”), em letras douradas, incorporada numa cercadura com vários animais. 




Folio 296v, Cântico dos Cânticos



Iluminura da página de abertura de “Cântico dos Cânticos” (Shir Hashirim). A palavra Shir (Cântico) aparece em letras douradas, ladeada por um urso e um unicórnio. 




Folio 294, Livro de Rute



Painel com a palavra inicial do Livro de Rute – Va’yehi (“Aconteceu”), híbridos, um veado e um leão, com uma cercadura de flores.




Folio 302, Eclesiastes



Painel com Divrei (“Palavras”), no começo de Eclesiastes (Kohelet) – Eclesiastes 1:1: «Palavras de Kohelet, filho de David, rei de Jerusalém.» A palavra está cercada por pequenos medalhões, onde habitam vários animais, e incorporada numa estrutura arquitectónica gótica com o rei David a tocar harpa, ladeado por um leão e um cervo.



 Bíblia Espanhola do Duque de Sussex, Catalunha,
meados do século XIV



ff. 3v-4, Alfaias Litúrgicas do Templo



Os painéis, magnificamente pintados, exibem uma combinação de utensílios do Tabernáculo do Deserto (Mishkan), do 1º Templo (de Salomão), do 2º Templo (de Herodes) e do futuro Templo Messiânico, conforme descrição de Rashi e Maimónides. A Menorá (candelabro de 7 braços), a Arca da Aliança, o Jarro do Maná, e outras alfaias outrora existentes no Templo, são executadas a folha de ouro sobre fundo colorido.






Na página esquerda podemos observar um estilizado Monte das Oliveiras. É uma alusão à visão messiânica de Zacarias (Zacarias 14:4: «Naquele dia, Seus pés estarão sobre o Monte das Oliveiras, a leste de Jerusalém…»)

O tema do messianismo, inerente às imagens desta Bíblia, é a resposta dos Judeus às perseguições e ao ódio que lhes eram movidos na Espanha cristã medieval. Como tal, retratar as alfaias do Templo pode ser interpretado como uma afirmação de continuidade, de resistência e de afirmação da identidade judaica.



Bíblia Italiana do Duque de Sussex (Ferrara?), 1448 ou 1498





Folio 313v, Crónicas



Iluminura com a palavra Adam, no início de Crónicas (Divrei Haiamim) – Crónicas 1: «Adão [Adam], Shet, Enosh,…»




ff. 49v-50, Cântico do Mar



Enquadrada numa cercadura floral com medalhões habitados por animais, surge o “Cântico do Mar” (Êxodo 15:1-18), o cântico de Moisés que é o documento poético mais antigo da literatura hebraica. No cântico do Mar Vermelho, Moisés e o Povo de Israel expressam o seu louvor ao Eterno em reconhecimento ao grande milagre que os libertou do cativeiro do Egipto.



 Êxodo 15:1-2: «Então cantaram Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Eterno, e disseram: Cantarei ao Eterno, que gloriosamente Se enalteceu; cavalo e cavaleiro atirou ao mar. Minha fortaleza e meu cântico é D’us, e Ele foi a minha salvação.»



Este artigo foi elaborado na íntegra por,
Sónia Craveiro


Muito Obrigada
Beijinhos J



  
Fontes:

Bíblia Hebraica, Editora & Livraria Sêfer;

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

A Alegria do Shabat!



Shabat Shalom!


Cartas de Lisboa | Vayigash





De uma carta do Rebe Lubavitcher traduzida para o português por 
Vera Gorodski Centeno:



"Chanucá, o festival das Luzes, relembra a vitória – há mais de 2100 anos – de um militarmente fraco, mas espiritualmente forte, povo judeu sobre as forças poderosas de um inimigo implacável, que tinha invadido a Terra Santa, ameaçando subjugar a terra e  o seu povo à escuridão.


A miraculosa vitória – culminando com a dedicação do Santuário em Jerusalém e o reacendimento do Menorá, que tinha sido profanado e extinguido pelo inimigo – tem sido anualmente celebrada desde esses oito dias de Chanucá, especialmente através do acendimento do Menorá de Chanucá, que é um símbolo e uma mensagem do triunfo da liberdade sobre a opressão, do espírito sobre a matéria, da luz sobre a escuridão.


É uma mensagem oportuna e encorajadora, pois as forças da escuridão estão sempre presentes. Além disso, o perigo não vem exclusivamente do exterior; frequentemente espreita perto de casa, na forma de insidiosa erosão de consagrados valores e princípios, que são a fundação de qualquer sociedade humana decente. Escusado será dizer, que a escuridão não é repelida por varinhas e pozinhos, mas pela iluminação. Os nossos Sábios disseram: “Uma pequena luz expele muita escuridão”.



As luzes de Chanucá relembram-nos da forma mais óbvia que a iluminação começa em casa, dentro de nós mesmos e da nossa família, através do incremento e da intensificação da luz da Torá e das Mitsvot na experiência quotidiana, mesmo as luzes de Chanucá sendo acesas em crescente número de dia para dia. 




Mas embora comece em casa, não para aí. Tal é a natureza da luz: quando alguém acende uma luz para benefício próprio, também beneficia todos os que se encontram nas proximidades. Na verdade, as luzes de Chanucá são expressamente pensadas para iluminar o ‘exterior’, simbolicamente aludindo ao dever de trazer luz também para aqueles que, por uma ou outra razão, ainda caminham na escuridão...




Rezemos para que a mensagem das luzes de Chanucá ilumine pessoalmente a vida diária de todos, e da sociedade em geral, para uma vida mais brilhante em todos os aspectos, quer materialmente, quer espiritualmente."


Shabbat Shalom!
Cortesia doRabino
Eli Rosenfeld
chabadportugal.com



Pinturas de:

Rebe Lubavitcher por Yitzchok Moully
Restantes pinturas do Chanucá por Alex Levin
Fotografia do Chanuká 2014/5775 em Cascais

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Cartas de Lisboa | Mikeitz




Mikeitz


Joseph Interprets the Dream of Pharaoh -19th Century painting by Jean-Adrien Guignet



A história de José no Egito, é uma história de extremos e de polarização. Enquanto na Parsha da semana passada, José estava numa cela de prisão, na Parsha desta semana ele está no palácio do Faraó.


Dom Abarbanel, na sua análise sobre esta incrível transição, encontra muitas semelhanças entre a Parsha da semana passada, Vayeishev, e a desta semana, Mikeitz.



Joseph receives his brothers by Bacchiacca


Apontando os paralelos na narrativa, ele ilustra como quase tudo o que anteriormente parecia impossível, é agora a verdadeira fonte do sucesso de José.
Aqui estão alguns dos paralelos:


1) Como os outros se relacionavam com José - antes, ele era desprezado pelos seus próprios irmãos, agora ele é amado mesmo por estranhos, pelo Faraó e por todo o Egito.

2) A sua capacidade de interpretação de sonhos - anteriormente, era fonte de desprezo e inveja, agora foi o que o catapultou para o sucesso.

3) As suas roupas - os seus irmãos fizeram questão de lhe retirar o casaco quando ele foi sequestrado. Esta semana, lemos que José está vestido como realeza quando aparece no palácio.

4) Antes José foi vendido, agora ele é o vendedor, supervisionando todo o comércio e facilitando as transações comerciais em todo o Egito.

5) No início José foi forçosamente separado de sua família, na nossa Parsha ele e a família estão mais uma vez juntos.


Diz Dom Abravanel, estas semelhanças são muito reveladoras. Quando confrontados com situações difíceis, ou um ambiente desafiador, é importante manter esta história em mente.

Para lembrar que as próprias coisas que parecem estar apresentando dificuldades, podem ser transformadas para o bem.



The Glory of Joseph watercolor circa 1896–1902 by James Tissot


O que em um determinado momento pode parecer ser um grande obstáculo, com a ajuda de D-us, pode tornar-se o veículo para bênçãos.


Shabat Shalom!
Cortesia do Rabino


Eli Rosenfeld
chabadportugal.com