segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Dra. Rita Levi – Um dos Prémios Nobel da ciência.



Dra. Rita Levi-Montalcini


Presidente Honorária da Associação Italiana de Esclerose Múltipla

Infatigável, a cientista nascida em Turim a 22 de Abril de 1909 numa família judia sefardita (pai engenheiro, mãe pintora), foi nomeada em Agosto de 2001 senadora vitalícia pelo então Presidente da República italiana Carlo Ciampi, pelos seus “grandes méritos no campo científico e social”. Ela não parava. “Vou muito bem, física e moralmente, e nunca trabalhei com tanto entusiasmo como neste último período da minha vida”, garantia no seu 101º aniversário, meses depois de ter partido um fémur.




A cientista e senadora italiana Rita Levi-Montalcini, Prémio Nobel da Medicina de 1986, aos 103 anos, na sua casa, em Roma. Numa entrevista, quando cumpriu 100 anos, disse:

“O corpo faz aquilo que quer. Eu não sou corpo: eu sou a mente”


Pintura de Marie Curie 

A neurologista italiana, Dra. Rita Levi-Montalcini, que completou 100 anos no dia 22 de Abril de 2009, recebeu o Prémio Nobel de Medicina há 23 anos, quando tinha os seus 77.




Por causa da sua ascendência judia viu-se obrigada a deixar Itália um pouco antes do começo da II Guerra Mundial. Emigrou para os Estados Unidos onde trabalhou no Laboratório Victor Hambueger do Instituto de Zoologia da Universidade de Washington de San Louis.






Em 1951 foi ao Brasil para efectuar experiencias de culturas In Vitro no Instituto de Biofísica da Universidade do Rio de Janeiro, onde, em Dezembro deste mesmo ano, a pesquisadora consegue identificar o factor de crescimento das células nervosas (Nerve Growth Factor, conhecido por NGF). Esta descoberta valeu-lhe o Prémio Nobel para a Medicina em conjunto com Stanley Cohen.


Entrevista no dia 22 de Dezembro de 2005


- Como vai celebrar os seus 100 anos?

- Ah, não sei se viverei até lá, e além disso não gosto de celebrações. O que me mantém e interessada e que gosto é do que faço no meu dia-a-dia!




E o que é que a Dra. faz?

- Trabalho para dar uma bolsa de estudos para as meninas africanas para que estudem e prosperem…elas e os seus países. E continuo investigando, continuo pensando.

- E não pensa em aposentar-se?

- Jamais! Aposentar é destruir o cérebro! Há muita gente que se aposenta e se abandona, e isso mata o cérebro e adoecem.

- E como está o seu cérebro?

- Igual a quando tinha 20 anos. Não noto diferença nem nas ilusões e nem nas capacidades. Amanhã voo para um congresso médico.

- Mas terá algum limite genético?

- Não. O meu cérebro vai fazer um século…mas não conhece a senilidade. O corpo enruga-se, não posso evitar, mas não o cérebro!

- E como é que a Dra. consegue isso?

- Possuímos uma grande plasticidade neural; ainda quando morrem neurónios, os que restam reorganizam-se para manter as mesmas funções, mas para isso é conveniente estimulá-los.


- Ensine-me a fazê-lo.

- Mantenha o seu cérebro com ilusões, activo, faça com que ele trabalhe e em troca ele nunca se irá degenerar.

- E viverei mais anos?

- Viverá melhor os anos que viver e é isso que interessa. A chave é: manter as curiosidades, empenho, ter paixões e veja, não me refiro a paixões físicas especificamente, simplesmente tenha paixões.




-A sua paixão foi a investigação científica?

- Sim, foi e continua a ser.

- Descobriu como crescem e se renovam as células do sistema nervoso?

- Sim, em 1942, dei o nome de Nerve Growth Factor (NGF, factor do sistema nervoso), e durante quase meio século houve dúvidas, até que foi reconhecida a sua validade e em 1986, deram-me o prémio por isso.

- Como foi para uma jovem de 20 anos tornar-se neurocientista?

- Desde menina que tive o empenho de estudar. O meu pai queria apenas que me cassasse bem, fosse uma boa esposa e uma boa mãe, mas eu não quis. Fui firme e confessei que apenas queria estudar.

- E o seu pai ficou magoado?

- Penso que sim, mas eu não tive uma infância feliz sentia-me feia, tonta e pouca coisa…Os meus irmãos mais velhos eram muito brilhantes e eu sentia-me tão inferior.

- Vejo que isso foi um estímulo…

- O meu estímulo foi o exemplo do médico Albert Schweitzer, que estava em África a ajudar com o problema da lepra. Eu desejava ajudar os que sofrem, e esse foi sempre o meu grande sonho.


- E o que tem feito com a sua ciência?

- Continuo a ajudar as meninas de África a estudar. Lutamos contra a enfermidade, a opressão da mulher nos países islâmicos por exemplo, além de outras coisas.



-Acha que a religião trava o desenvolvimento cognitivo?

- A religião marginaliza muitas vezes a mulher perante o homem, afastando-a do desenvolvimento cognitivo, mas algumas religiões têm vindo a corrigir essa posição.

- Existem diferenças entre os cérebros do homem e da mulher?

- Só nas funções cerebrais relacionadas com as emoções, vinculadas ao sistema endócrino. Mas em relação às funções cognitivas, não existe diferença nenhuma.

- Porque é que existem poucas mulheres cientistas?

- Não é verdade! Muitos descobrimentos científicos atribuídos a homens, foram na realidade feitos pelas suas irmãs, esposas e filhas.



- Esse facto é verdadeiro?

- A inteligência feminina não era admitida e era deixada na sombra. Hoje, felizmente existem mais mulheres do que homens na investigação científica, são as herdeiras da Hipácia!

- A sábia Alexandrina do século IV…

- Já não vamos acabar assassinadas nas ruas pelos monges cristãos misóginos, como ela foi. Claro, o mundo tem melhorado algo…






- Nunca ninguém tentou assassina-la?

- Durante o fascismo, Mussolini quis imitar o Hitler na perseguição dos judeus, e tive que me recolher por algum tempo. Mas nunca deixei de investigar; tinha o meu laboratório no meu quarto e foi ai que descobri a apoptose, que é a morte programada das células.

- Como explica a alta percentagem de judeus entre os cientistas e os intelectuais?

- A exclusão estimula nos judeus os trabalhos intelectuais, podem-nos proibir de tudo, mas não de pensar. E sim, é bem verdade que existem muitos judeus entre os Prémios Nobel.




- Como cientista, como explica a loucura nazi?

Hitler e Mussolini souberam como falar ao povo, onde sempre prevalece o cérebro emocional do neocortical, o intelectual. Eles conduziram emoções e não razões.






-Nunca se casou ou teve filhos?

- Não. Entrei no campo do sistema nervoso e fiquei tão fascinada pela sua beleza que decidi dedicar-lhe todo o tempo da minha vida.

- Lograremos um dia curar o Alzheimer, o Parkinson, a demência senil?

- Curar? O que vamos lograr será o travar, atrasar e minimizar todas essas enfermidades.


- E hoje, qual é o seu grande sonho?

-Que um dia possamos utilizar ao máximo a capacidade cognitiva de nossos cérebros.

-A ideologia é uma emoção, é sem razão?

- A razão é filha da imperfeição. Nos invertebrados tudo está programado; são perfeitos. Nós não. E ao sermos imperfeitos, recorremos à razão, aos valores éticos; discernir entre o bem e o mal é o mais alto grau da evolução darwiniana.





- Quando deixou de se sentir feia?

- Ainda estou consciente das minhas limitações.


-O que é que tem sido para si o melhor da sua vida?

- Ajudar os outros.



Os meus especiais agradecimentos à minha amiga
Maria Augusta Pereira
Bjs 

Fontes:

4 comentários:

  1. Nem sei que dizer... acho que vou fazer circular um mail com este artigo! Mas que extraordinário!...

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  2. Esta senhora também me impressionou bastante, uma força de mulher fantástica e na altura não era fácil, há imensas na nossa história, uma delas, na area músical que me impressionou e que ainda ondem coloquei no facebook, foi a Sra. Alice Herz Sommer...fiquei muito emocionada quando li pela primeira vez, não pela profissão em si, mas pelo que transmitem aos outros, contagiam-nos positivamente. A mensagem que nos deixam fica eternizada nos nossos corações.

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  3. Eu vi o vídeo que publicou, sim :). Cinco minutos de profunda intemporalidade. Cinco minutos de suspensão, como receber uma bênção, pela mensagem transmitida, quer nas palavras, quer no olhar, quer no movimento singular dos dedos desta senhora sobre as teclas do piano.

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