quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Miriam!



MIRIAM

UMA HEROÍNA DA TORÁ

A mãe de Moisés, Simeon Solomon, 1860


     Nesta pintura a óleo de Simeon Solomon (1840-1905), o pintor descreve-nos uma cena familiar cheia de ternura: Moisés ao colo da mãe (Joquebede), que lhe segura amorosamente na mãozinha minúscula, e ao lado, delicadamente inclinada sobre os dois, está Miriam, a irmã mais velha. Miriam segura a cesta que há-de transportar Moisés nas águas das margens do Nilo, salvando-o do édito do Faraó que decretava a morte a todos os recém-nascidos israelitas do sexo masculino.


A mãe de Moisés, Alexey Tyranov (1808-1859)


   Segundo o Talmude (Sotá 12a), Amram, o pai de Miriam e líder espiritual da sua geração, na sequência do decreto faraónico de matar todo o menino recém-nascido israelita, decidiu divorciar-se de Joquebede para evitar a possibilidade do nascimento de mais filhos. Miriam, então uma menina de seis anos de idade, terá argumentado com o pai, defendendo que tal atitude era mais cruel que a do Faraó: enquanto que o Faraó decretara o fim de todos os meninos, ele, Amram, cujo comportamento poderia ser imitado por outros judeus, estaria a condenar também as meninas, pondo em risco a continuidade do povo judeu. 

  Amram ouviu a filha e casou em segundas núpcias com a sua ex-mulher, gerando o futuro redentor de Israel.


Descobrindo Moisés, Edwin Long, 1886


“E ficou de longe sua irmã, para ver o que lhe aconteceria. E a filha do Faraó havia descido para se banhar no Nilo (…), e viu a arca dentro do canavial e mandou que a sua criada lhe pegasse”
Êxodo, 2:4-5


  Miriam, escondida no canavial, vigiava o seu pequeno irmão, vendo-o ser recolhido das águas do Nilo por uma serva da filha do Faraó. Percebendo que a filha do Faraó precisava de uma ama-de-leite para amamentar o bebé, intervém, perguntando: «Queres que vá chamar para ti uma mulher, ama das hebreias, e que amamente o menino por ti?» (Êx. 2:7). Com a concordância da princesa, Miriam escolheu uma ama, a própria mãe, Joquebede, que amamentou e cuidou de Moisés. 


“Os Israelitas deixando o Egipto”, 1828, David Roberts



   Segundo os sábios, Miriam terá recebido este nome [onde a palavra mar (amargura) está embebida], por ter nascido no período mais penoso do cativeiro: «E (os egípcios) amarguraram as suas vidas (dos israelitas) com serviço penoso…» (Êx. 1:14). Mas este foi também o período que daria início ao longo processo de redenção do povo de Israel, que Miriam ainda criança, já dotada de dons proféticos, terá anunciado: «Minha mãe terá um filho que será o libertador de Israel.» (Sotá, 12b). 


“Pois te fiz sair da terra do Egipto, te redimi da casa da escravidão e enviei diante de ti Moisés, Aarão e Miriam”
Miqueias, 6:4


   As palavras do profeta Miqueias colocam os três irmãos – Moisés, Aarão e Miriam-, lado a lado na extraordinária saga que conduz o povo de Israel da libertação da escravidão do Egipto rumo à Terra Prometida. É por intermédio de Moisés que D’us outorga a Torá aos israelitas; é pelo mérito de Aarão que a “Nuvem de Glória” protege os filhos de Israel durante a sua conturbada travessia de 40 anos no deserto, mas é graças a Miriam que a água fluía em abundância. A “Fonte de Miriam” (Be’er Miriam) acompanha o povo hebreu na sua longa caminhada no deserto, só deixando de jorrar água quando a profetisa morre (Núm. 20:1). 




   Após a travessia milagrosa do Mar Vermelho, Moisés e Aarão lideram os homens de Israel num cântico de louvor a D’us (Êx. 15:1).Os israelitas tinham sido libertos da escravidão do Egipto.

     Miriam, com um tamborim nas mãos, entoa também um hino de louvor ao Senhor: «E tomou Miriam, a profetisa, irmã de Aarão, o tambor na sua mão, e saíram todas as mulheres atrás dela, com adufes e com danças.» (Êx. 15:20). É justamente nesta passagem que a Torá se refere a Miriam como Ha-naNaviá – a profetisa. 





Hagadá Kaufman, Catalunha, séc. XIV



   A magnífica iluminura acima apresentada ilustra os versículos da Torá acima mencionados; nela podemos observar, do lado direito, três mulheres tocando instrumentos musicais: da direita para a esquerda, um órgão portátil, um alaúde e Miriam com o adufe. Em frente a elas, mas em baixo, vemos três mulheres de véu e cinco raparigas que dançam de mãos dadas. Do lado esquerdo, Moisés e Aarão com um grupo de israelitas com as mãos elevadas, louvando o Eterno.


     Três mil anos depois, a travessia do Mar Vermelho continua a ser motivo de agradecimento e exultação para os judeus do mundo inteiro. Para Miriam, que ainda criança havia profetizado que sua mãe teria um filho que libertaria os hebreus do cativeiro do Egipto, que se empenhou na salvação e bem-estar do irmão, o momento não podia ser de maior alegria e reconhecimento ao Eterno. É este sentimento que a profetisa, que contribuiu de forma tão significativa para a sobrevivência do povo de Israel, expressa quando entoa o Hino de Louvor: «Cantemos ao Senhor, pois triunfou gloriosamente. Cavalo e seu cavaleiro lançou ao mar.» (Êx. 15:21). 


O Hino de Louvor de Miriam, Wilhelm Hensel, 1836



   O pintor alemão Wilhelm Hensel (1794-1861) retratou de forma admirável o episódio de Êxodo, 15: 20-21. O modelo da figura de Miriam foi a sua mulher, a compositora Fanny Mendelssohn, irmã do célebre compositor Felix Mendelssohn. Miriam também é glorificada na canção “Miriam’s Song” de Debbie Friedman. É com esta canção que terminamos esta singela homenagem a Miriam, a profetisa. 




And the women dancing with their timbrels,/Followed Miriam as she sang her song,/Sing a song to the One whom we’ve exalted,/Miriam and the women danced and danced the whole night long.


Este artigo foi mais uma relíquia elaborada por
Sónia Craveiro,
Muito obrigada
Um grande beijinho




Fontes: 

http://www.morasha.com.br/conteudo/ed32/miriam.htm

A Lei de Moisés – Torá, Êxodo, editora &livraria Sêfer; 

http://www.goblenart.com/unique/miriams-song-of-praise/

http://kaufmann.mtak.hu/en/ms422/ms422-003v.htm

http://www.youtube.com/watch?v=QZdSEsZ8bMo

Última pintura de: Vie Dunn-Harr

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