terça-feira, 8 de maio de 2012

Sinagogas em Madeira




 Sinagoga Wolpa, foi construída no inicio do Séc. XVIII.


As sinagogas em madeira são, sem sombra de dúvida, um dos símbolos mais representativos da vida judaica nas áreas rurais da vasta região que, alguns chamam de yiddishland, a terra do iídiche. Nessa região, os judeus levavam sua vida, falando ídiche e seguindo seus costumes, independentemente da mudança de soberania entre polacos e russos.



Sinagoga Grodno, foi construída na segunda metade do Séc. XVIII.


A abundância de madeira nas florestas na Polónia e Lituânia barateava e facilitava as construções nesse material. Há quem afirme que as sinagogas de madeira foram construídas baseando-se no modelo de igrejas e mansões da nobreza polaca. Esta seria, no entanto, uma visão simplista do assunto, pois as casas de oração erguidas por carpinteiros e artesãos judeus tinham seu próprio estilo artístico e valor arquitetónico.


 Sinagoga Gwozdziec, construída no inicio do Séc. XVII.


Estudos sobre sua história e evolução apontam Podília e Galícia como as regiões onde, no século 17, ter-se-ia iniciado tal estilo de construção, daí se espalhando para a Ucrânia, Polónia, Lituânia, Bielorússia, assim como Bavária, Rússia, chegando à Sibéria e a Alemanha. O uso desse material continuou até o início do século passado, sendo que na virada do século 19 para 20, ergueram-se outras vinte e três sinagogas. Acredita-se que no decorrer de quatro séculos foram construídas mais de mil sinagogas em madeira.



 Bimah da sinagoga Gabin.


 Inicialmente, eram simples as construções: uma sala rectangular para as orações, coberta por um telhado em madeira. Com o tempo, foram-se sofisticando, adoptando a sobreposição de pisos e telhados; galerias e abóbadas, em diferentes níveis; fachadas com torres laterais, além de vários ambientes e anexos em volta do hall central. Um detalhe interessante das sinagogas maiores era a harmoniosa sobreposição de tectos, que atingiam grandes alturas e remetiam ao formato de pagodes, dando graça especial à construção. Esses tectos também recebiam atenção especial, com balaustradas e frisos de madeira decorados. Em seu interior, os artistas judeus criavam bimot e Arcas Sagradas ou Aron ha-Codesh, ricamente entalhadas na própria madeira. As sinagogas mais requintadas foram erguidas na área que, hoje, corresponde ao sudeste da Lituânia, ao oeste da Bielorússia e ao distrito de Bialistok.





Resgatando as sinagogas perdidas


Durante o Holocausto, 6 milhões de judeus foram brutalmente massacradas pelos nazis e seus colaboradores. Essa fúria se abateu também sobre todos os objectos relacionados ao culto e ao património sagrado de nosso povo. A violação e destruição de sinagogas foi uma operação planeada e executada com cuidado; milhares foram arrasadas e centenas das sinagogas em madeira, queimadas.



 Sinagoga em Gabin, foi construída no inicio do Séc. XVIII.


Em virtude da Guerra Fria, toda a Europa Oriental foi fechada a estudiosos ocidentais que só passaram a ter permissão para pesquisas nos últimos quinze anos. Durante décadas, acreditou-se que todas as sinagogas de madeira haviam sido destruídas. Mas, na década de 1990, pesquisadores da Universidade Hebraica descobriram seis sinagogas ainda de pé, em aldeias remotas, que milagrosamente sobreviveram ao Holocausto e a meio século de negligência. Todas, porém, em estado lastimável. Em 1999, quando Albert Barry, produtor cinematográfico, foi à Lituânia para filmar o documentário sobre a riqueza perdida em arte judaica europeia, The Lost Wooden Synagogues of Eastern Europe, conseguiu localizar mais outras quatro.



 Sinagoga em Lunna Wola construída no final do Séc. XVIII.


Felizmente, há um visível aumento, no mundo inteiro, no interesse em resgatar os símbolos de um universo judaico que deixou de existir. São livros, documentários, palestras, exposições de maquetes e outros projectos, que visam reconstruir alguns dos mais belos modelos de sinagogas em madeira e de toda uma época que se foi. Este resgate perpetua a riqueza de nosso passado e de nossa tradição, que tantos tentaram arrebatar de nós. Porque, como escreveu um poeta de França, "...O passado é um segundo coração que bate dentro de nós"...



Esta jóia foi descoberta dentro de uma das sinagogas. Infelizmente, das dez Sinagogas visitadas, foi a única evidência de um símbolo judaico.





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