segunda-feira, 7 de maio de 2012

A ORQUESTRA WEST-EASTERN DIVAN



Uma Orquestra pela Paz


    Em 1999, o maestro e pianista israelita Daniel Barenboim e o já falecido escritor e académico palestiniano Edward Said reuniram-se na cidade alemã de Weimar, para um workshop destinado a jovens músicos israelitas, palestinianos e de países árabes, tais como o Líbano, a Jordânia, a Síria ou o Egipto.

    Logo depois, os amigos Barenboim e Said, fundaram uma orquestra com o objetivo de estabelecer uma ponte entre as várias culturas do Médio-Oriente, estimulando assim o diálogo através da experiência de fazer música em conjunto: a orquestra West-Eastern Divan, em alusão à coletânea poética de Goethe, com o mesmo título (em alemão West-östlicher Divan).

    A orquestra tem sede em Sevilha, onde reúne anualmente para um curso de Verão, e é suportada pela Fundação Barenboim/Said em Sevilha, a Junta de Andalucia e o Governo de Espanha.

    No seu livro intitulado Está tudo ligado, Barenboim diz o seguinte: « (…) Fomos [Barenboim e Said] buscar o nome do nosso projecto, “O Divã Ocidental-Oriental”, a uma coletânea de poemas de Goethe, que foi um dos primeiros europeus a interessar-se verdadeiramente por outras culturas. Descobriu o Islão quando um soldado alemão que tinha combatido numa das campanhas espanholas trouxe consigo uma página do Corão para lhe mostrar. O seu entusiasmo foi tão grande que começou a aprender árabe aos sessenta anos de idade. Mais tarde descobriria o grande poeta persa Hafiz e foi ele a inspiração para a sua colectânea de poemas que têm por tema a ideia do outro, o Divã Ocidental-Oriental, publicado pela primeira vez há quase duzentos anos, em 1819. (…) Os poemas de Goethe tornaram-se um símbolo da ideia subjacente à nossa experiência de juntar músicos árabes e israelitas. Essa experiência teve início em 1999 em Weimar, o que reforça ainda mais a justeza de dar à orquestra o nome da colectânea de poemas de Goethe


    Em 2000, a Staatskappelle Berlin nomeou Barenboim Maestro Principal para a Vida. Entretanto, vários músicos desta instituição musical alemã colaboram, na qualidade de professores, na West-Eastern Divan Orchestra desde a sua fundação.

    É na orquestra, que alguns israelitas se encontram com árabes, pela primeira vez nas suas vidas. E vice-versa. Quando um sírio, por exemplo, entra para a orquestra, ele pode ter a sensação de estar diante do “inimigo”, quando se depara com um israelita.

    «No início, ele talvez o veja como um monstro, mas quando começam a fazer música juntos, passam a ver o “inimigo” de outra forma. Seis ou sete horas de ensaio conjunto contribuem para que se adquirem experiências, objectivos e sentimentos comuns. E acima de tudo, respeito pelo outro.», explica Barenboim.


     É claro que, em relação às questões políticas, continua a haver divergências. No entanto, para muitos músicos, o trabalho na orquestra é um dos pontos de referência nas suas vidas. E não são raras as amizades que surgem ali dentro, sendo que muitas delas provavelmente jamais seriam seladas sem a orquestra. A coragem dos jovens músicos é também digna de admiração. «Muitos deles não são bem vistos nos seus países de origem. Em alguns casos, há até mesmo risco de vida, porque eles são vistos como pessoas que fazem música ao lado do que se chama o “inimigo”», conta o regente.


    Em 2002, Daniel Barenboim e Edward Said foram galardoados com o Prémio Príncipe das Astúrias, na cidade espanhola de Oviedo, pelos seus esforços em prol da paz no Médio-Oriente. Em Novembro do mesmo ano, Daniel Barenboim foi agraciado com o Prémio da Wolf Foundation’s Arts, no Knesset de Jerusalém, e em 2009 com a Medalha Moses Mendelssonh, pela sua contribuição para a Paz e Tolerância no Mundo. O maestro apoia vários projetos de música e educação, tanto em Israel, como na Palestina.


    Em Ramallah, o Barenboim/Said Music Center coordena projetos de ensino de música, com capacidade para escritórios, salas de aula, e 10 a 15 professores a tempo inteiro.





"The Ramallah Concert - Knowledge is the Beginning"





West – Eastern Divan Orchestra, sob a direção de Daniel
Barenboim, no Alhambra, Granada.
Giovani Bottesini, Fantasia com temas de Rossini
Kyril Zlotnikov, violoncelo
Nabil Shehata, contrabaixo


Este artigo foi-me enviado pela minha querida amiga
Sónia Craveiro,

a quem agradeço desde já, o trabalho e carinho que gastou na elaboração do mesmo, mas acima de tudo pela enorme riqueza desta partilha.


Fontes:
BARENBOIM, Daniel, Está tudo ligado/ O Poder da Música, Bizâncio;



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