quinta-feira, 10 de maio de 2012

18 dia de Iyar, dia de Lag BaÔmer



Lag BaÔmer é um dia festivo no Calendário Judaico, celebrando o aniversário de falecimento do grande sábio Rabi Shimon Bar Yochai, autor do Zôhar. Outro evento também é comemorado: nas semanas entre Pêssach e Shavuot houve uma praga entre os alunos do grande sábio Rabi Akiva. Em Lag BaÔmer as mortes cessaram.



Lag Baômer significa “33º do Ômer," pois este é o 33º dia da "Contagem do Ômer" que tem a duração de 49 dias, conectando Pêssach a Shavuot, e interligando a jornada dos judeus na saída do Êgito até a chegda ao Monte Sinai. No calendário judaico, este corresponde ao 18º dia do mês de Iyar.

Lag Baômer celebra a vida e os ensinamentos de dois dos mais notáveis Sábios da história judaica: Rabi Akiva e Rabi Shimon bar Yochai.


Rabi Akiva viveu na Terra Santa em uma das épocas mais difíceis de nossa história: a geração seguinte à da destruição do Templo Sagrado (no ano 69 da Era Comum) e a impiedosa perseguição dos judeus pelos romanos. Os Romanos proibiram o estudo de Torá e a prática do Judaísmo sob pena de morte. Rabi Akiva, que estudara com os maiores Sábios da geração anterior, desafiou os Romanos transmitindo o que havia recebido a seus discípulos, garantindo assim a sobrevivência da Torá. De fato, todo o corpo da Lei da Torá (mais tarde registrado na Mishná e no Talmud) pode ser seguido até os ensinamentos de Rabi Akiva e seus discípulos.


Até a idade de quarenta anos, Rabi Akiva foi um pastor analfabeto. Mas Rachel, a bela e piedosa filha do abastado cidadão de Jerusalém cujos rebanhos Akiva pastoreava, reconheceu seu potencial, e prometeu desposá-lo se ele devotasse a vida ao estudo de Torá. Ao pastorear as ovelhas de seu amo certo dia, Akiva encontrou uma pedra na qual havia sido cavado um profundo sulco por um fio de água. "Se gotas de água podem desgastar a rocha sólida," pensou, "certamente as palavras de Torá terminarão por penetrar na minha mente."

Akiva e Rachel casaram-se, e ele cumpriu sua promessa, dedicando-se ao estudo da Torá. Deserdados pelo pai de Rachel, os dois suportaram anos de pobreza e labuta; por fim, entretanto, o sacrifício foi recompensado: Rabi Akiva tornou-se o mais notável mestre de Torá de seu tempo, com 24.000 alunos. "Tudo aquilo que consegui, e tudo que vocês conseguiram," disse a eles, "é pelo mérito dela."


Morte entre os Discípulos

Mas então uma tragédia ocorreu. A discórdia e os conflitos entre os discípulos de Rabi Akiva conduziram milhares à morte nas semanas entre Pêssach e Shavuot, dizimados por uma peste. É por este motivo que neste período não realizamos casamentos, cortes de cabelo, ou escutamos música.

Em Lag Baômer, o 33º dia da Contagem do Ômer tristeza e luto são suspensos por dois motivos: nesta data cessou a morte dos discípulos de Rabi Akiva e marca o dia de falecimento de Rabi Shimon bar Yochai. Seus ensinamentos revelaram a dimensão mística da Torá: a Cabalá, a "alma" do Judaísmo. Rabi Akiva reconstruiu sua grande Escola de Estudos de Torá, reiniciando com seus cinco discípulos sobreviventes: Rabi Meir, Rabi Yehudá, Rabi Yossi, Rabi Nechemia e Rabi Shimon bar Yochai.

Rabi Shimon bar Yochai

Como Rabi Akiva, seu mestre, Rabi Shimon sofreu perseguição por parte dos Romanos, e sua cabeça foi colocada a prêmio. Rabi Shimon precisou esconder-se com seu filho, Rabi Elazar.

Foram até as colinas ao norte de Israel, e ocultaram-se em uma caverna onde estudaram Torá dia e noite. D'us realizou muitos milagres para eles: uma alfarrobeira cresceu na entrada da caverna para alimentá-los, e a água foi fornecida por uma fonte de água fresca. Eliyáhu, o profeta, apareceu a eles, ensinando-lhes os mistérios e segredos da Torá.

Após doze anos na gruta, Rabi Shimon soube que o imperador romano que havia decretado sua morte não vivia mais. O perigo havia passado; Rabi Shimon e seu filho podiam agora deixar a caverna.

Foi em Lag Baômer que Rabi Shimon e Elazar saíram da escuridão para a luz do sol. Era primavera, e os fazendeiros estavam atarefados nos campos, arando e semeando. Porém para Rabi Shimon, esta não foi uma visão bonita. Para ele parecia uma grande tolice, talvez um pecado. O tempo do ser humano neste mundo é precioso e breve - como podia desperdiçá-lo trabalhando a terra, quando poderia devotar-se aos esplendor da sagrada Torá de D'us?


Rabi Shimon havia desenvolvido notáveis poderes durante os doze anos na gruta, e agora, ao observar com ira esta visão indesejada, os campos e árvores irromperam em chamas. Ouviu-se uma Voz Celestial, dizendo: "Você saiu para destruir Meu mundo? Volte para sua caverna!" Portanto, Rabi Shimon e Elazar retornaram à gruta por mais um ano, mergulhando ainda mais na sabedoria Divina. Foi durante este décimo terceiro ano na caverna que descobriram o segredo mais profundo da Torá: que o propósito da Criação é "Construir uma morada para D'us no mundo físico."

Aprenderam que embora o trabalho mundano do homem pareça grosseiro e inferior, a maior santidade está oculta dentro deste mundo físico. D'us deseja que transformemos o mundo material em uma morada para Ele. Uma vida totalmente devotada à Torá preenche esta finalidade, mas assim também o faz uma vida devotada a desenvolver o mundo material em conformidade com a vontade Divina. Não são todos que devem passar o tempo inteiro no estudo de Torá, como fizeram Rabi Shimon e seu filho.

Quando Rabi Shimon emergiu da caverna no Lag Baômer seguinte, não estava menos comprometido com o estudo de Torá; de fato, isso permaneceria sua "única ocupação" pelo restante de sua vida. Mas ele havia também aprendido a apreciar o valor dos caminhos na direção do cumprimento do propósito Divino, em vez do seu. Agora, seu olhar sobre o mundo curava, em vez de destruir.

Rabi Shimon Bar Yochai não apenas atingiu pessoalmente o mais elevado entendimento dos segredos da Torá, expressso em sua obra mística, o Zôhar, como tornou-se o mais ilustre mestre de Torá de sua geração. No último dia de sua vida, Rabi Shimon reuniu seus alunos e disse-lhes: "Até o dia de hoje, tenho mantido os segredos em meu coração. Mas agora, antes de morrer, desejo revelar todos eles."


O Zôhar, que significa "esplendor" ou "brilho", tornou-se a base da espiritualidade ímpar da Chassidut, fundada no século XVIII por Rabi Yisrael ben Eliezer, o "Báal Shem Tov", no Leste Europeu.

O Zôhar descreve o dia da morte de Rabi Shimon como repleto de grande luz e júbilo sem fim, e a sabedoria secreta que ele revelou naquele dia aos discípulos; tanto para o mestre como para os alunos, diz o Zôhar, foi como o dia em que o noivo e a noiva se rejubilam sob a canópia nupcial. Diz-se que o dia não chegou ao fim antes de Rabi Shimon revelar tudo que lhe fora permitido revelar. Apenas então o sol recebeu permissão de se pôr; e quando isso aconteceu, a alma de Rabi Shimon deixou seu corpo, subindo aos céus.

Rabi Abba, um aluno incumbido do trabalho de transcrever as palavras de Rabi Shimon, conta: "Eu nem ao menos conseguia manter a cabeça levantada, devido à luz intensa que emanava de Rabi Shimon. Durante todo o dia a casa esteve repleta de fogo, e ninguém podia chegar perto, por causa da parede de chamas e luz. No fim do dia, o fogo finalmente arrefeceu, e pude olhar a face de Rabi Shimon. O sol se punha e com ele a alma do mestre se elevava. Estava morto, envolto em seu Talit, deitado sobre o lado direito – e sorrindo."

Rabi Shimon fora banhado em luz e fogo, pois a Torá é comparada ao fogo – "Aish HaTorá". Fogo é o material que converte matéria física em energia. Assim também, a Torá nos mostra como transformar o mundo material em energia transcendente.

Rabi Shimon bar Yochai faleceu em Lag Baômer. Antes de morrer, instruiu os discípulos para observarem seu yahrzeit, data de seu falecimento, como um dia de muita alegria e festividades.


Rabi Akiva ensinou que "Amar o próximo como a si mesmo" é um princípio cardinal na Torá; de fato, este é o mais famoso de seus ensinamentos.
Como explicar então a morte de milhares de seus discípulos que tornaram-se os maiores exemplos dos ensinamentos de seu mestre? Como puderam tornar-se deficientes nesta área tão vital?
O Lubavitcher Rebe explica que a própria diligência deles em cumprir o preceito "Amar o próximo como a si mesmo" foi sua ruína. Os discípulos de Rabi Akiva serviam a D’us com a máxima sinceridade e devoção. Assim parecia a cada um deles que seu enfoque individual era o correto e que aos outros faltava a perfeição tentando ajudá-los, mostrando seu pensamento individual.
Nossos Sábios disseram que "Assim como a face de cada pessoa difere das faces das outras, assim também a mente de cada pessoa é diferente da mente de seu próximo." Quando os 24.000 discípulos de Rabi Akiva estudaram os ensinamentos de seu mestre, o resultado foi 24.000 diferentes nuances de entendimento, pois os conceitos foram assimilados por 24.000 mentes - cada uma sendo única e distinta das outras. Se os discípulos de Rabi Akiva tivessem amado menos uns aos outros, isso teria sido motivo para uma menor preocupação; mas devido ao fato de que cada discípulo esforçou-se para amar o condiscípulo como "a si mesmo" sentiu-se compelido a corrigir seu raciocínio e comportamento "errôneos", e a esclarecê-los quanto ao verdadeiro significado das palavras de seu mestre.
Cada judeu dedicado a Torá e mitsvot, embora divirja em sua maneira de servir a D’us, deve agir com bondade e respeito, e julgar sempre favoravelmente aquele que ainda se encontra distante ou afastado.
Esta foi a verdadeira lição deixada por Rabi Akiva e Rabi Shimon, provavelmente o segredo mais profundo revelado da Torá: o serviço a D’us deve ser desempenhado com verdadeira inspiração e vitalidade amando ao próximo como a si mesmo e respeitando a individualidade.


Meron. Não muito distante da gruta onde Rabi Shimon e seu filho Elazar esconderam-se por treze anos está a aldeia de Meron. Lá, no alto das lindas montanhas da Galiléia, está o local onde foi sepultado Rabi Shimon, venerado até os dias de hoje como um dos locais mais sagrados na Terra de Israel.
A cada ano em Lag Baômer, dezenas de milhares de judeus dirigem-se a Meron com suas famílias, para celebrar o dia de Rabi Shimon. Vêm de todas as partes do país e do mundo todo, para rezar sobre seu túmulo, estudar seu sagrado Zôhar e para dançar, cantar e festejar.
Na véspera de Lag Baômer, os campos e montanhas perto de Meron ficam repletos de pessoas até onde a vista pode alcançar. Alguns montam barracas e passam a noite, ou mesmo vários dias. Canções e risos, e o odor de comidas deliciosas enchem o ar. Ao cair da noite, as pessoas fazem fogueiras gigantes, iluminando a escuridão com a luz brilhante e reluzente da Torá.
Esta festa é chamada a "Hilulá (banquete de núpcias) de Rabi Shimon bar Yochai" - uma celebração não apenas aqui neste mundo, mas no mundo superior dos anjos, e além deste. Tem sido uma tradição por muitas centenas de anos, e alguns dos maiores Sábios de todos os tempos seguiram este costume. Todos os tipos de judeus se reúnem em Meron por ocasião de Lag Baômer - judeus orientais, judeus europeus, judeus israelenses - e pelo grande mérito de Rabi Shimon, todos estas pessoas de origens diferentes se reúnem como se fossem uma só.


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