quarta-feira, 28 de março de 2012

Sinagoga Ohel Yaacov




Brasil - São Paulo


Os pedacinhos de vidro estão escondidos num depósito desde Outubro de 2005, uma espécie de lembrança de outros tempos, histórias e lições que ficaram guardadas na estante da memória. Juntos, formavam imensos vitrais coloridos, mosaicos com símbolos religiosos. Para as centenas de famílias que frequentavam a antiga Sinagoga Ohel Yaacov, no centro de São Paulo, antes de sua demolição por uma incorporadora, esses vidros também significaram uma ligação com a tradição judaica, algo que o progresso não destruiu nem com britadeiras.

Todo esse simbolismo dos vitrais será justamente a principal atracção da nova sinagoga Ohel Yaacov, que está sendo construída na Rua Cravinhos, no Jardim Paulistano, na zona sul - um dos bairros mais nobres da capital Paulista. Da velha sede demolida na região central sobraram apenas os tais pedaços de vidro, que foram preservados e recuperados um por um, caco por caco, no novo prédio.
De volta às paredes até o segundo semestre de 2011, eles serão uma espécie de ponte de transição entre o arcaico e o moderno na nova sinagoga, que agora contará com salas de ensino, centros de palestra, biblioteca, auditório, área de convivência e espaço para festas.

"Os vitrais são símbolos da evolução, uma lembrança da tradição, mas também uma ligação com o futuro", diz o vice-presidente da sinagoga, Abramo Douek. O tempo Ohel Yaacov foi a primeira sinagoga sefardita de São Paulo, inaugurada em 1929 na Rua da Abolição, no centro. Os judeus sefaraditas são aqueles cujos ancestrais vieram de países do Médio Oriente, Península Ibérica e África. Com a degradação do centro paulistano, a sinagoga foi perdendo frequentadores e importância, até que o grupo Sílvio Santos fez oferta para comprar o terreno - o objectivo era a construção de um shopping center, que depois foi trocado para um conjunto residencial, mas que até agora não saiu do papel.

A relação de Sílvio Santos com a sinagoga Ohel Yaacov é antiga. O apresentador tinha uma cadeira etiquetada com seu nome verdadeiro, Senor Abravanel, para assistir aos cultos do templo - as comunidades judaicas têm como costume marcar as cadeiras com o nome de frequentadores que fazem donativos.

Foi o próprio Senor Abravanel, aliás, quem encontrou o terreno na Rua Cravinhos para a construção da nova sede - que agora terá 2.737 metros quadrados, uma sinagoga para 580 pessoas, outra menor, para 100 pessoas, e um salão de festas para 500 pessoas.

"Ele  ajudou-nos a comprar o novo espaço, além de pagar um preço simbólico pelo outro terreno,  deu o pontapé inicial na reconstrução", diz o rabino Samy Pinto. "A ajuda dele foi essencial. Já concluímos 70% da obra, mas ainda há muito trabalho pela frente. A nova Ohel Yaacov, como faz parte da tradição das sinagogas, não será apenas um templo para orações, mas também um centro cultural para o contacto com as artes, o teatro e a música. Queremos trazer os jovens de volta."

Em São Paulo, cidade com 29 mil judeus que só recebeu a imigração em peso durante a 2.ª Guerra Mundial e depois da criação de Israel, a comunidade judaica parece especialmente preocupada em encontrar o equilíbrio certo entre manter as tradições e atrair os adolescentes. É o desafio de manter a tradição kosher na era pop.

Para tentar entender melhor as dúvidas de sua comunidade, o rabino Samy Pinto tem visitado a casa dos antigos frequentadores da Ohel Yaacov para avisá-los que, até o ano que vem, eles terão novamente um centro para se encontrarem.

"Quero conectar de novo as famílias. Eu sou também director de escola para crianças, e por isso sei da importância da renovação, a importância de se repensar a linguagem, para falar com os jovens de uma forma diferente", diz. "A nova sinagoga Ohel Yaacov será como um diálogo novo, um jeito de receber todas as pessoas sem que haja conflitos de geração."

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