“MOISÉS E A COROA DO FARAÓ”

Midrash

     Segundo a Torah, no Livro do Êxodo - Parashat Shemot -, Moisés tinha a língua embaraçada, isto é, sofria de gaguez. Um Midrash (Shemot Rabah 1, 31) conta-nos porquê.

     Certa vez, estava o Faraó a jantar na companhia da filha e do pequeno Moisés, então com três anos, que se encontrava sentado ao colo da princesa, quando o menino olhou para a coroa do Faraó e, de repente, estendeu a mão e pegou-lhe. O Faraó assustou-se. Por acaso já não havia sido feita a previsão de que um dia alguém que lhe era próximo o venceria e dominaria o Egito em seu lugar?

    O Faraó chamou então os seus conselheiros e pediu-lhes que interpretassem o gesto da criança: seria uma simples brincadeira ou um presságio nefasto? Estes decidiram, assim, testá-lo colocando carvões em brasa e ouro diante dele, dizendo: «Se o menino deseja o vosso reinado, vai escolher o ouro e, neste caso, merece a morte.»

     O pequeno Moisés, atraído pelo brilho, quis estender a mão para o ouro, mas um anjo (o Anjo Gabriel) empurrou-o com força. O menino caiu em cima da brasa, gritando de dor. No pânico do momento levou a mão à boca mas, agarrado à mão estava um pedaço de carvão incandescente que lhe queimou a língua. Desde aquele dia começou a gaguejar, falando com dificuldade.

Fig.1: Jan Steen, Moisés e a coroa do Faraó, c. 1670

“O BASTÃO DE MOISÉS“

Midrash

Onde arranjou Moisés o mateh – bastão -, que usou para realizar os vários prodígios? De acordo com o Pirke Avot 5:6, o bastão era uma das dez coisas criadas no primeiro erev Shabat, ao crepúsculo. Havia letras hebraicas gravadas no bastão, que formavam um acrónimo das dez pragas.

     O bastão teria sido dado a Adão no Jardim do Éden, que o passou a Enoch; Enoch deu-o a Noé, que por sua vez o deu a Abraão. Abraão deu-o a Isaac, Isaac deu-o a Jacob, que o levou para o Egito. Depois da morte de Jacob, José ficou com o bastão, que após a sua morte ficou no palácio do Faraó. Yetro, que era um dos conselheiros do Faraó, mais tarde adquiriu-o e pô-lo, com uma das extremidades enterrada, no seu jardim em Midian. Ninguém foi capaz de o arrancar do jardim, até vir Moisés e conseguir removê-lo. Quando Yetro viu isto, ficou convencido que Moisés seria o enviado de Deus para redimir Israel do Egito, e por esta razão deu-lhe a sua filha Seforah em casamento.

Artigo oferecido pela minha amiga Sónia Craveiro, a quem agradeço o trabalho e o carinho dispensados.

 

Nota: note-se a similaridade desta história com a da espada do rei Artur.

Fig.1: Moisés e o seu bastão/serpente, Marc Chagall